Tornar-se marca do Reino de Deus
Está dito: «Em quem repousarei, senão naquele que é manso e
humilde, e teme as minhas palavras?» (Is 66,2,LXX).
Está claro, pois, que o Reino de Deus Pai pertence aos
humildes e aos mansos. Com efeito, também está dito:
«Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra» (Mt 5,4). [...]
A Terra é o estado e o poder, firme e imutável, suscitado pela
beleza e a retidão dos mansos, porque eles estão sempre com o Senhor,
comunicam uma alegria incessante, conquistaram o Reino preparado desde o
começo e são dignos do lugar e da ordem do Céu, qual terra cuja localização no
centro do Universo é a razão da virtude, segundo a qual o homem manso, que se
encontra no seu centro, entre o elogio e a difamação, permanece impassível, nem
inchado pelos elogios, nem abatido pela difamação.
Com efeito, depois de ter recusado o desejo das coisas das quais
está livre por natureza, a razão não sente os ataques das mesmas quando a
perturbam;
repousando da sua agitação, transportou todo o poder da alma para
o porto da liberdade divina distanciada da ação, essa liberdade que o Senhor
desejava transmitir aos seus discípulos quando lhes dizia: «Tomai sobre vós
o meu jugo e aprendei de Mim, que sou manso e humilde de coração, e
encontrareis descanso para as vossas almas».
Ele chama repouso ao poder do Reino divino, um poder que
suscita nos que são dignos uma soberania distanciada de qualquer servidão.
Ora, se o poder indestrutível do Reino em estado puro foi
dado aos mansos e humildes, estes estão cheios de amor e desejo dos bens divinos,
tendendo por isso, em extremo, para a humildade e a mansidão, a fim de se
tornarem marca do Reino de Deus, na medida em que isso é possível ao
homem, trazendo em si aquilo que, pela graça, os faz ter uma forma espiritual
semelhante à de Cristo, o qual é, na verdade e por essência, o grande Rei.
São Máximo, o Confessor (c. 580-662), monge, teólogo | Interpretação do pai-nosso | Imagem de James Chan