As heresias dos primeiros tempos do Cristianismo
As heresias dos primeiros tempos do Cristianismo
“Os
primeiros cristãos sofreram a dura prova externa das perseguições.
Internamente,
a Igreja teve de enfrentar outra prova não menos importante: a defesa da
verdade ante correntes ideológicas que procuraram desvirtuar os dogmas fundamentais da fé cristă.
As
antigas heresias - que assim se chamaram essas correntes de ideias - podem
dividir-se em três grupos diferentes.
Por um lado
existiu um judeo-cristianismo herético,
negador da divindade de Cristo e da eficácia redentora da sua Morte, para o
qual a missão messiânica de Jesus teria sido conduzir o Judaísmo à sua
perfeição, mediante a plena observância da Lei.
Um segundo
grupo de heresias - de aparecimento mais tardio - caracterizou-se pelo seu fanático rigorismo moral, estimulado
pela crença num fim dos tempos iminente.
No século
II, a mais conhecida destas heresias foi o Montanismo,
embora, na Africa latina, nos princípios do século IV o extremismo rigorista
fosse ainda um dos componentes do Donatismo.
Mas a
maior ameaça interna que a Igreja cristã teve de enfrentar durante a idade dos
mártires foi a heresia gnóstica.
O Gnosticismo era uma grande corrente ideológica
tendente ao sincretismo religioso, na moda nos últimos séculos da Antiguidade.
O
Gnosticismo - que constituía uma verdadeira escola intelectual - apresentava-se
como uma sabedoria superior, apenas ao alcance de uma elite minoritária de «iniciados».
Em
relação ao Cristianismo o seu propósito foi desvirtuar as verdades da fé,
apresentando as doutrinas gnósticas como a genuína expressão da tradição cristã
mais sublime, aquela que Cristo teria anunciado apenas aos seus discípulos mais
íntimos, «capazes de compreender» o que permanecia oculto para o comum dos
fiéis.
O
representante mais notável do Gnosticismo foi Marcião, que fundou uma pseudo-igreja,
que na sua organização e liturgia procurava imitar a Igreja cristă.
A Igreja
reagiu com firmeza ante as infiltrações gnósticas nas comunidades cristãs, ao
mesmo tempo que os teólogos demonstraram a incompatibilidade doutrinal existente
entre Cristianismo e Gnosticismo.
Antes de
finalizar o século II os cristãos tinham superado definitivamente a grande
tentação de dissolver a fé no magma das fantasias sincretistas da Gnose.
A fé cristã
tinha saído vitoriosa da sua luta com a sabedoria helenística.