Tertuliano de Cartago, ao serviço de um ideal cristão

Tertuliano de Cartago, ao serviço de um ideal cristão

Tertuliano de Cartago, ao serviço de um ideal cristão

Em Cartago, os cristãos são numerosos; eles empregam quase exclusivamente o latim na liturgia. 

É Tertuliano (155-220) que dá à Igreja da África e mesmo a toda a latinidade a sua linguagem teológica, tão diferente do estilo oriental.

Uma personalidade fora de série, esse Quinto Sétimo Florêncio Tertuliano!

Cartaginês, filho de centurião, teve um nível de instrução que lhe permitiu exercer em Roma o cargo de advogado, na época de Setímio Severo. Talvez tenha sido o espetáculo da morte dos mártires que o levou ao cristianismo.

Voltando à África, padre, chefe dos catecúmenos, ele colocou o seu ardor e o seu talento - poder-se-ia mesmo dizer seu génio - de jurista e de polemista ao serviço de um ideal cristão que ele localiza num ponto muito alto, muito alto mesmo, inumanamente inacessível.

Porque Tertuliano pertence à classe dos convertidos intransigentes. Ainda que se possa lamentar que Tertuliano tenha chegado a injuriar e depois a deixar a Mãe Igreja, julgada muito sonolenta.

O latim do século III deixou muito poucas obras tão essenciais como Ad martyres, exortação ao martírio, ou De Praescriptione haereticorum, método de combate baseado na autoridade jurisdicional e histórica da Igreja.

E o que não dizer desse Apologeticum, em que a erudição do escritor fortalece a veemência de sua fé para combater a idolatria?

Mas já nesta obra se revela o rigorismo moral de Tertuliano, a impossibilidade que ele experimenta de partilhar a vida de uma cidade ainda pagã. 

Pouco a pouco, ele chega ao ponto de só respeitar os fiéis “pneumáticos" - aqueles que acreditam estar em contato direto com o Espírito -, esmagando com o seu desprezo e a sua crueldade os fiéis comuns, ao mesmo tempo em que execra as pequenezas da vida quotidiana: espetáculos, modas, segundas núpcias, nada escapa aos seus ataques.

No seu tratado De Poenitentia, Tertuliano ergue-se com veemência contra a longanimidade do papa Calixto, que admite a remissão de todos os pecados.

E, depois, aprofunda-se lentamente no esquecimento daqueles que desligaram suas ágeis canoas do grande e pesado barco da Igreja.

Fonte: “História da Igreja”, Pierre Pierrad (texto editado e adaptado) | Imagem