Onde guardas as cinzas dos defuntos?
As cinzas dos defuntos
Uma
pessoa tem as cinzas dos seus pais em casa. A última a falecer foi a mãe, há
uma semana. Começou a ter dúvidas se estava a fazer bem ou mal. Por isso, pediu
conselho.
Realmente,
onde conservar as cinzas dos entes queridos, para garantir a memória, respeito
e devoção que eles nos merecem?
Tanto na
vida como na morte, a fé cristã reconhece “a
grande dignidade do corpo humano como parte integrante da pessoa da qual o
corpo partilha a história”.
O mesmo
respeito é devido às cinzas, que são “os
restos mortais” daquela pessoa concreta, que vive espiritualmente “na esperança de que ressuscitará para a
glória” eterna.
De facto, a fé cristã afirma que a morte não é o fim de tudo, mas sim a transformação da pessoa e da sua vida.
Na
ressurreição, pelo seu poder omnipotente, Deus
dá nova vida ao nosso ser: “o espírito
separa-se do corpo, mas na ressurreição Deus torna a dar vida incorruptível ao
nosso corpo transformado, reunindo-o, de novo, ao nosso espírito”.
A
conservação das cinzas em casa pode tornar mais difícil o luto, pois a pessoa
está sempre a “tropeçar” nos restos
mortais dos entes queridos. Não consegue assim separar-se deles e da memória
dolorosa da sua perda.
Ora, nós
sabemos que o crescimento e amadurecimento da pessoa, desde o nascimento,
faz-se pela separação física dos pais, pela autonomia e independência, para que
tenha a sua própria vida e uma rede de relações e convivência diversificadas.
A
proximidade das cinzas pode enredar a pessoa nessa memória dolorosa, ficando
aprisionada nela, sem conseguir viver livre e feliz.
Ora,
continuar a viver com satisfação e memória grata dos antepassados, honra os
defuntos, que continuam a querer o melhor para os seus familiares e não lhes
agrada ser para eles um entrave nesse sentido.
Memória e conservação das cinzas
A
conservação das cinzas em lugar adequado é memória importante para a relação e
comunhão com os defuntos. De preferência, seja um lugar não privado mas da
comunidade, onde melhor se pode sentir a dor partilhada por outros e a
solidariedade.
Mais do
que nas cinzas, é em Deus e na
comunidade cristã que encontramos espiritualmente vivos os nossos defuntos. Por
isso, relação com eles pode ser comunhão positiva, na diferente condição em que
se encontram relativamente a nós.
A fé
cristã considera que a relação com os mortos se faz espiritualmente através da
comunhão dos santos: pela memória, a oração, especialmente na missa, e a visita
ao lugar da sua sepultura ou da conservação dos seus restos mortais. E isso é
vivido na comunidade e não simplesmente de modo privado.
A memória e comunhão com os defuntos ajuda a
suportar e superar o luto, para transformar a perda em dom, em entrega
confiante, à semelhança do que fez Jesus
na sua morte: “Pai, nas tuas mãos
entrego o meu espírito”.
Por todas
estas razões, a Igreja católica considera que “as cinzas do defunto devem ser conservadas, por norma, num lugar
sagrado, isto é, no cemitério”, não consentindo a sua conservação “em casa”, nem que sejam “divididas entre os vários núcleos familiares”
ou dispersas “no ar, na terra ou na água,
ou, ainda em qualquer outro lugar”.
Antes, “deve ser sempre assegurado o respeito e as
adequadas condições de conservação das mesmas”.
As
citações são da instrução “Sobre a
ressurreição com Cristo”, da Congregação
para a Doutrina da Fé “a propósito da
sepultura dos defuntos e da conservação das cinzas da cremação”
(15/8/2016).
Fonte: Texto retirado da página no FB de Jorge Guarda (editado e atribuídos subtítulos) | Imagem de Enrique Meseguer