Razões para crer?
“Os maus
cristãos não têm fé, mas também não abjuram; desculpam-se, afirmando não ter
razões para crer.
Daí
resulta que o seguinte discurso seja comum na boca de muitos: «Se tivesse visto algum milagre, seria santo».
«Esta geração perversa e infiel pretende
um sinal», e os maus desejam ver milagres.
O mais
espantoso é que, tendo visto tantos milagres, que ocorrem todos os dias diante
dos seus olhos, estando, por assim dizer, rodeados de milagres, não deixem de
continuar a procurá-los, como os escribas e os fariseus, que queriam vê-los no
céu, depois de os terem visto na Terra.
E nem os
mortos ressuscitados em vida do Salvador, nem o eclipse do Sol aquando da sua
morte os tornaram fiéis; pelo contrário, a sua inveja tornou-se mais forte por
causa deles, o seu ódio mais venenoso; uma e outro ascenderam ao ponto da
fúria, e a sua infidelidade não foi curada.
E assim
acontecerá a quantos, vivendo mal, estão à espera de milagres para crer: «Ainda que alguém ressuscitasse dos mortos,
não se deixariam convencer» (Lc 16,31). [...]
Todas as
dificuldades que detêm os incrédulos, todas as contradições com que eles
deparam nos dogmas da fé, tudo o que lhes aparece como contrariedades, tudo o
que lhes parece novo, surpreendente, contrário ao senso comum, contrário à
razão, inconcebível, impossível, todos os seus argumentos, todas as suas
pretensas demonstrações, tudo isso, muito longe de me abalar, reforça-me ainda
mais, torna-me inabalável na minha religião. [...]
As novas
dúvidas são para mim novas razões para crer.”
São Cláudio de la Colombière (1641-1682), jesuíta | «Reflexões cristãs» | Imagem