O «Fértil Crescente» ou «Meia Lua Fértil»

 

«Fértil Crescente» ou «Meia Lua Fértil»

O «Fértil Crescente»

Ao consultar um mapa do Médio Oriente, logo nos damos conta de que a Palestina ou Terra de Canaã se encontra integrada na zona do chamado «Fértil Crescente» ou «Meia Lua férti», (pela sua configuração geográfica).

Ou seja, numa faixa de terreno vasta em comprimento mas exígua em largura (apertada entre as montanhas Taurus, Ararat e Zafros a norte, e o deserto Siro-Arábico a sul), que, do Golfo Pérsico, sobe acompanhando o curso dos rios Tigre e Eufrates e, na Alta Síria – Harran - desce em direcção ao Mediterrâneo.

Aqui inflecte para sul ao longo da planície costeira da Palestina e, do Delta do Nilo, prossegue ao longo da imensa linha de água por ele constituída.

Porque é zona de água, é também zona de riqueza e de progresso, com próspera agricultura e indústrias e artes afins.

Por isso, desde há muitos milénios que civilizações surgiram e floresceram na Mesopotâmia e no Egipto.

Mas também, por isso mesmo, essas regiões se tornaram presa apetecida dos outros povos das regiões mais pobres do deserto ou das montanhas.

E assim se explicam as permanentes invasões (entre estas, são as dos Semitas que mais directamente nos interessam) bem como o fluxo e o refluxo de brilhantes civilizações na Mesopotâmia.

Já que o Egipto, esse, teve um desenvolvimento civilizacional mais harmónico e uma vida histórica mais calma.

Por outro lado, a faixa costeira mediterrânica, incluída a Palestina, constitui, precisamente, um extenso corredor de passagem obrigatória entre os ricos e poderosos impérios que se vão sucedendo na Mesopotâmia (e a norte, na Ásia Menor) e o milenário Egipto.

E como, sempre que um império se julga grande e forte, logo lhe vem a tentação de alargar poder e domínio, e inevitavelmente faz guerra aos outros, cá temos a Palestina transformada em frequente palco de sangrentas batalhas, travadas por outros e para benefícios alheios.

E ai da pequena nação se não colabora. Mas com quem? E para quê?

Recordemos que a Bíblia nos fala de Abraão, o «nosso Pai na fé» (Gn 12 e s.), integrando-o na imensa rota das migrações dos povos «semitas»: de Ur da Caldeia (onde o seu clā nómada teria chegado sabe Deus quando, oriundo da Arábia Meridional) avança para ocidente, «Crescente Fértil» acima, em busca de melhores pastos e melhor vida.

E no seu peregrinar nómada, «quando servia outros deuses», escuta o chamamento de Deus.

E nunca mais deixará de O servir. Com todo o seu clã... E da sua «fidelidade» todos nós nascemos!

Não estranharemos, consequentemente, que no subconsciente do povo hebreu continuem bem vivas as lendas e mitos da Mesopotâmia, sobretudo ao chegar a hora de transcrever, na história sagrada, a teologia das origens.

E que esta, purificada do politeísmo e sublimada nas intenções, continue a exprimir-se, nos primeiros capítulos de Génesis, exatamente com as mesmas imagens, lendas e mitos dos povos e regiões de origem - a Mesopotâmia.

Lembremos, sobretudo,

- o mito babilónico da criação «Enuma elish», poema ao deus Marduk (séc. XIX-XVIII);

- a epopeia «Atra-Hasis», de c, de 1800 a.C., procedente de Babilonia;

-  a epopeia de Gilgamesh, o lendário rei de Kish, na Suméria, com a narração Assíria do dilúvío;

-  os mitos da serpente, da árvore da Vida ou do Bem e do Mal;

- o episódio da Torre de Babel...

Fonte: "Atlas Bíblico Geográfico-Histórico", J. Machado Lopes