Fariseus - Grupos religiosos em Israel no tempo de Jesus
Os Fariseus
Por mais
pejorativa que seja a imagem que deles nos deixaram os Evangelhos, uma
coisa podemos afirmar: eram os «santos» do tempo. Flávio Josefo diz-nos
que eram homens piedosos, íntegros e que aguentavam a perseguição e o martírio
no tempo de Herodes.
«Fariseu»
significa «separado», talvez por se separarem do povo inculto, sem
conhecimento de Deus, portanto desprezível (no modo de pensar deles).
Entre si
tratavam-se por «haberim» (companheiros), termo que aparece muito
na «Mishná». Formavam, portanto, uma seita que tinha como base o estudo
e a interpretação da Lei.
A origem dos fariseus
A sua
origem remonta ao tempo dos Macabeus. E procedem, com certeza, dos
grupos de hassidim (piedosos, puros), dos quais se separaram por
não estarem de acordo com a orientação, quer demasiado espiritualista, quer
demasiado política e revolucionária, que aqueles assumiram.
A sua
influência foi aumentando cada vez mais, sobretudo entre 135 e 103 a.C., por
causa da enorme coesão dos seus grupos. Depois, e sobretudo após o ano 63, com
o domínio romano, a sua influência foi diminuindo no campo político, mas
mantiveram, apesar de tudo, grande aceitação popular.
Por isso
Herodes sempre evitou atacá-los de frente. Até que resolveu impor-lhes
juramento de fidelidade a si mesmo e ao imperador Augusto. E eles negaram-se...
o que provocou a ira e a perseguição do rei. Muitos foram martirizados (há quem
fale em mais de 6000!, número certamente exagerado), e isso granjeou-lhes ainda
mais a admiração do povo judeu.
Os fariseus e os outros grupos
Sociologicamente,
constituíram como que a classe média judia, constituída, em grande parte, por artesãos
e escribas. E, no tempo de Cristo, eram como que a essência do judaísmo.
Para isto
contribuía, para além da vida integra que levavam, o manterem-se afastados
tanto da classe alta (saduceus, colaboracionistas), como do nacionalismo
revolucionário (zelotes), como ainda do povo simples e ignorante que não
vivia (nem podia!) a Lei e os costumes...
Constituem-se
em associações de diferentes tendências, e reúnem-se em pequenos grupos, para rezar,
estudar a Lei, e para a ceia em comum às Sextas-feiras. Preocupação
fundamental: observar estritamente a Lei. E para isso rodeiam-se de uma complicada
casuística, a fim de evitar a transgressão dos Preceitos do Senhor!
O seu
ideal é fazer de Israel um Povo santo como os sacerdotes (Ex 19,6), separados
dos pecadores (Lv 11,45). O rigor das suas normas leva-os a evitar todo o
contacto com os pecadores e com todo o tipo de pessoas que vivam ou levem a
viver à margem da Lei.
E cá
estamos perante os principais motivos de choques e discussões de Jesus com os
fariseus (cfr. Mc 2, 15-17; etc.).
Os fariseus adaptam-se
Os
fariseus aceitam uma certa evolução da Escritura, ao aceitarem, não só a Lei
escrita, mas também a oral. Deste modo, embora dificilmente, vão-se abrindo e
adaptando:
- aceitam
a ressurreição dos mortos e a imortalidade do homem (Act 23, 6-10); todo o
complicado mundo dos anjos e dos demónios;
- as
relações com Deus entendem-nas na base dos méritos provenientes do cumprimento
da Lei e das boas obras...
O seu
erro é sentirem-se santos e orgulharem-se da própria santidade, pensando que
podem apoiar-se na sua santidade para se apresentarem diante de Deus, fiados
dos próprios méritos!...
Jesus e os Fariseus
Jesus, na
Sua vida e doutrina, está muito próximo dos «bons» fariseus, e deles recebeu a
doutrina e um certo modo de rezar ao Pai.
E se a
eles, em geral, se opõe tão duramente, terá sido por se sentir defraudado ao
ver como desvirtuavam a Sua santidade diante do povo, povo simples que, por
outro lado, tanto os admirava.
E nem
todos adoptaram, diante de Jesus, uma atitude de condenação, bem pelo contrário
(cfr. Jo 3; Lc 7,36; 13, 31; Act 5, 34; 15,5; 29, 3).
Poderá
afirmar-se que foram eles quem, com a sua vida integra e exigente, salvaram o
judaísmo após o ano 70 d.C.
Fonte: “Atlas
Bíblico Geográfico-Histórico”, J. Machado Lopes | Imagem