A pureza de intenção
“Nosso Senhor, segundo dizem os antigos,
tinha o costume de dizer aos seus: «Sede
bons negociantes».
Quando
uma moeda não é de ouro de lei, ou, não tendo peso, quando não tem a marca do
ouro, rejeitamo-la por não ser aceitável. Uma obra de boa espécie, se não
estiver ornada de caridade, se a
intenção não for piedosa, não será recebida entre as obras boas.
Se eu
jejuo, mas o faço para poupar, o meu jejum não será de boa espécie; se for por temperança, mas tiver um pecado mortal
na alma, faltará peso a esta obra, porque é a caridade que dá peso a tudo o que fazemos; se for apenas por
conveniência e para me acomodar aos meus companheiros, esta obra não traz a
marca de uma intenção reta.
Se,
porém, jejuar por temperança, e estiver na graça
de Deus, e tiver a intenção de agradar a sua Divina Majestade com essa temperança, a obra será moeda boa,
própria para aumentar em mim o tesouro da caridade.
Fazer excelentemente as ações pequenas é fazê-las com grande pureza de intenção e uma grande vontade de agradar a Deus; essas obras santificam-nos enormemente.
Há
pessoas que comem muito e estão sempre magras e extenuadas, porque não têm boa
capacidade digestiva; e há outras que comem pouco, mas estão fortes e
vigorosas, porque têm um estômago saudável.
Da mesma
maneira, há almas que fazem muitas obras boas e crescem muito pouco na
caridade, porque as fazem com frieza ou com preguiça, ou mais pelo instinto e a
inclinação da natureza do que por inspiração divina ou por fervor celeste;
pelo
contrário, há quem faça muito pouca coisa, mas com uma vontade e uma intenção
tão santas que faz um progresso extremo no amor: estas almas têm poucos
talentos, mas gerem-nos com tal fidelidade que o Senhor as recompensa
grandemente.”
São Francisco de Sales (1567-1622), bispo de Genebra, doutor da Igreja | «Tratado do amor de Deus», livro XII, cap. VII | Imagem de Tim C. Gundert