Santos André Dung-Lac, presbítero, e companheiros, mártires - 24 de novembro
Nas
regiões do Extremo Oriente, antigamente chamadas Tonquim, Annam e Cochinchina,
regiões da Ásia, no atual Vietname, o Evangelho foi anunciado desde o século
XVI, por intermédio de numerosos missionários, que ali fizeram florescer uma
fervorosa cristandade.
Entre os
séculos XVII e XIX, os cristãos sofreram frequentes perseguições, das quais
resultou uma incalculável multidão de mártires. Entre eles contam‑se os santos André Dung-Lac
e companheiros: trinta e sete presbíteros e
cinquenta e nove leigos mártires,
entre os anos 1625-1886.
No dia 9
de junho de 1988, João Paulo II
canonizou 116 mártires pertencentes à Igreja do Vietname. Desses, 96 eram de
origem vietnamita, sendo os demais missionários provenientes de Espanha e de
França.
Desde
1624, quando os primeiros jesuítas
ali fundaram as bases do cristianismo,
os cristãos sofreram contínuas e sangrentas perseguições. Eram acusados de
destruir, com a sua pregação, os valores culturais e religiosos do país.
Durante a
perseguição de 1843, um deles, Paulo Le
Bao-Tinh escrevia da prisão:
"O meu cárcere é verdadeiramente uma imagem
do fogo eterno. Aos cruéis suplícios de todo género, como grilhões, algemas e
ferros, juntam-se ódio, vingança, calúnias, palavrões, acusações, maldades,
falsos testemunhos, maldições e, finalmente, angústia e tristeza. Mas Deus, tal
como outrora, libertou-me dessas tribulações, que se tornaram suaves, porque a
sua misericórdia é eterna!"
Santo André Dung-Lac, era de
família pobre, reconheceu a riqueza do Dom Sacerdotal e foi ordenado Padre em
1823; no meio das perseguições desejava ardentemente testemunhar Jesus Cristo
com o martírio, pois dizia que "aqueles que morrem pela fé sobem ao
céu".
*****
Participação dos mártires na vitória de Cristo, cabeça da Igreja
Eu, Paulo,
prisioneiro pelo nome de Cristo,
quero falar vos das tribulações que suporto cada dia, para que, inflamados no
amor de Deus, comigo louveis o Senhor, porque é eterna a sua misericórdia.
Este
cárcere é realmente a imagem do inferno eterno: além de suplícios de todo o
género, tais como algemas, grilhões, cadeias de ferro, tenho de suportar o
ódio, as agressões, calúnias, palavras indecorosas, repreensões, maldades,
juramentos falsos e, além disso, as angústias e a tristeza. Mas Deus, que
outrora libertou os três jovens da fornalha ardente, está sempre comigo e
libertou me destas tribulações, convertendo as em suave doçura, porque é eterna
a sua misericórdia.
Imerso
nestes tormentos, que costumam aterrorizar os outros, pela graça de Deus sinto
me alegre e contente, porque não estou só, mas estou com Cristo.
O nosso
divino Mestre é quem leva todo o peso da cruz, impondo me apenas uma pequena
parcela. Ele não é apenas espectador do meu combate, mas também combatente e
vencedor em toda esta luta. Por isso é sobre a sua cabeça que se impõe a coroa
da vitória, e nela participam todos os seus membros.
Como posso
eu suportar este espetáculo, ao ver todos os dias os imperadores, mandarins e
seus guardas blasfemar o vosso santo nome, Senhor, que estais sentado sobre os
Querubins e os Serafins? Vede como a vossa cruz é calcada aos pés dos pagãos!
Onde está a vossa glória? Ao ver tudo isto, sinto inflamar se o meu coração no
vosso amor e prefiro ser dilacerado e morrer em testemunho da vossa infinita
bondade.
Mostrai,
Senhor, o vosso poder, salvai me e amparai me, para que na minha fraqueza se
manifeste a vossa força e seja glorificada diante dos gentios, não aconteça que
eu vacile pelo caminho e os inimigos se orgulhem na sua soberba.
Ouvindo
tudo isto, caríssimos irmãos, tende coragem e alegrai vos, dai graças eternamente
a Deus, de quem procedem todos os bens, bendizei comigo ao Senhor, porque é
eterna a sua misericórdia.
Louvai o
Senhor, todas as nações, aclamai O, todos os povos, porque Deus escolheu o que é fraco para confundir o forte, escolheu o que
é insignificante e desprezível para confundir o que se julga nobre. Pela minha
boca e inteligência confundiu os mestres deste mundo, porque é eterna a sua
misericórdia.
Escrevo
todas estas coisas, para que estejam unidas a vossa e a minha fé. No meio desta
tempestade, lanço a âncora que me permitirá subir até ao trono de Deus: a
esperança viva que está no meu coração.
Caríssimos
irmãos, correi de modo que alcanceis a coroa da vitória, revesti vos com a
couraça da fé, tomai as armas de Cristo e combatei à direita e à esquerda, como
ensina São Paulo, meu patrono. É
melhor para vós entrar na vida sem os olhos ou debilitados, do que, com todos
os membros, serdes lançados fora.
Ajudai me
com as vossas orações, a fim de que possa combater segundo as regras, combater
o bom combate, combater até ao fim, de modo que termine felizmente a minha
carreira. Se já não nos virmos nesta vida, encontrar-nos-emos na felicidade da
vida futura, quando, na presença do Cordeiro
imaculado, num só coração e numa só alma, cantarmos eternamente a alegria
da vitória. Amen.
Das Cartas
de São Paulo Le-Bao-Tinh aos alunos do Seminário de Ke Vinh, escritas no ano
1843 (Launay, A.: Le clergé tonquinois et ses prêtres martyrs, MEP, Paris 1925,
pp. 80-83)
Fontes: SNLiturgia + Evangelho Quotidiano
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