«Então os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai»

«Então os justos brilharão como o sol no Reino do seu Pai»

“«Quando o que é corruptível se revestir da incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir da imortalidade» (1Cor 15,54), o amor será perfeito, o júbilo será perfeito, um louvor sem fim, um amor sem ameaças. [...]

E neste mundo? Não experimentaremos nenhuma alegria? [...]

Seguramente que sim; neste mundo, experimentaremos, na esperança da vida futura, uma alegria da qual seremos plenamente saciados no Céu.

Mas é preciso que o trigo suporte muitas coisas no meio do joio.

Os grãos são lançados à palha e o lírio cresce no meio dos espinhos.

Com efeito, que foi dito à Igreja

«Tal como um lírio entre os cardos, assim é a minha amada entre as donzelas» (Ct 2,2).

«Entre as donzelas», diz o texto, e não entre os estrangeiros.

Ó Senhor, que consolações dás Tu? Que conforto? Ou melhor, que temor? Chamas espinhos às tuas próprias donzelas? São espinhos, responde Ele, pela sua conduta, mas são donzelas pelos meus sacramentos. [...]

Mas onde deverá o cristão refugiar-se para não gemer entre falsos irmãos? Para onde irá ele? Fugirá para o deserto? As ocasiões de queda segui-lo-ão.

Distanciar-se-á para não ter de suportar os seus semelhantes? E se ninguém tivesse querido suportá-lo antes da sua conversão?

Se, por conseguinte, a pretexto do seu progresso interior, não quer suportar ninguém, isso prova que tal progresso não é real.

Escutai bem estas palavras: «Com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportai-vos uns aos outros no amor, procurando manter a unidade do Espírito, pelo vínculo da paz» (Ef 4,2-3).

Não há em ti nada que os outros tenham de suportar?”

Santo Agostinho (354-430), bispo de Hipona (norte de África), doutor da Igreja | Discursos sobre os salmos, Sl 99, 8-9 | Imagem