«Filho, tem confiança, os teus pecados estão perdoados»
Os
escribas diziam que só Deus podia
perdoar os pecados.
E Jesus,
antes mesmo de os perdoar, revela os segredos dos corações, demonstrando assim
que também Ele possuía esse poder reservado a Deus [...], porque está escrito: «Só vós, Senhor, conheceis os segredos humanos» (2Cr 6,30) e «o homem vê o rosto, mas Deus vê o coração»
(1Sam 16,7).
Jesus revela, portanto, a sua
divindade e a sua igualdade com o Pai mostrando aos escribas o que lhes ia no
fundo do coração e divulgando-lhes pensamentos que eles não ousariam dizer em
público, com medo da multidão. E fá-lo com total doçura. [...]
O paralítico podia ter manifestado a sua incredulidade em Cristo dizendo-Lhe: «Muito bem! Tu vieste curar outras doenças e sarar outro mal, o pecado. Que prova tenho eu de que os meus pecados estão perdoados?»
Mas não é nada disso que
acontece; ele confia-se Àquele que tem o poder de curar. [...]
Cristo diz aos escribas:
«Que é mais fácil: dizer: "Os teus pecados estão perdoados" ou dizer: "Levanta-te e anda"?»
Dito doutra maneira: que vos parece que é mais fácil, restabelecer um corpo paralisado ou perdoar os pecados da alma?
Evidentemente que é curar o corpo, uma vez que o
perdão dos pecados vai para além disso, dado a alma ser superior ao corpo.
Mas, porque uma destas obras é visível e a outra não, levarei a cabo precisamente a que é visível e menor, para assim comprovar a invisível e maior.
E nesse
momento, pelas suas obras, Jesus dá
testemunho de ser «Aquele que tira o
pecado do mundo» (Jo 1,29).
São João Crisóstomo (c. 345-407), presbítero de Antioquia, bispo de Constantinopla, doutor da Igreja | Homilias sobre São Mateus, 29, 2 | Imagem