São Martinho de Tours, Bispo + 397

São Martinho de Tours partilha a sua capa com um mendigo

São Martinho nasceu no ano de 316, na Sabária da Panónia (Hungria). Seu pai era oficial do Exército Romano.

Aos 12 anos, contrariando a vontade dos pais, tornou-se cristão. Entretanto, o pai contrapôs-se terminantemente a essa decisão do filho, alistando-o no Exército Romano.

Aconteceu, nessa época, o famoso episódio da manta de guarda imperial: ao ver um mendigo tiritando de frio, corta ao meio a sua manta e oferece-lhe uma parte.

À noite sonhou e viu Jesus envolto naquele pedaço de manta, dizendo: "Martinho, ainda não baptizado, deu-me este vestuário".

Abandonou então o Exército e fez-se baptizar por Santo Hilário de Poitiers.

Entregou-se à vida de eremita, fundando um mosteiro em Ligugé, em França, onde vivia sob a orientação de Santo Hilário.

Ordenado sacerdote, foi mais tarde aclamado bispo de Tours (371).

Tornou-se um grande evangelizador da França, verdadeiramente pastor, fundando mosteiros, instruindo o clero, defendendo a causa dos oprimidos e deserdados deste mundo.

Santo muito popular, é o primeiro confessor não mártir a ser venerado com rito litúrgico. 

O dia 11 de novembro é a data da deposição do seu corpo.

Morreu no ano de 397.



Martinho, pobre e humilde

“Martinho soube com muita antecedência o dia da sua morte e comunicou a seus irmãos que a separação do seu corpo estava iminente. Entretanto, viu se obrigado a visitar a diocese de Candes. Tinham surgido, com efeito, desavenças entre os clérigos desta igreja e Martinho desejava restaurar a paz. 

Apesar de não ignorar o fim próximo dos seus dias, não recusou partir perante motivo desta natureza, por considerar como bom termo da sua atividade deixar a paz restabelecida nessa igreja.

Permaneceu algum tempo nessa povoação ou comunidade para onde se dirigia. Depois de feita a paz entre os clérigos, pensou em regressar ao mosteiro. Mas de repente sentiu que lhe faltavam as forças do corpo. Reuniu os irmãos e participou-lhes que ia morrer. 

Então começou o pranto, a consternação e o lamento unânime de todos: «Pai, porque nos abandonas? A quem nos confias na nossa orfandade? Lobos ferozes assaltam o teu rebanho; quem nos defenderá das suas mordeduras, se nos falta o pastor? Sabemos sem dúvida que suspiras por Cristo, mas a tua recompensa está assegurada e não será diminuída se for adiada. Antes de mais, compadece-te de nós, que nos deixas abandonados».

Então, comovido por estes lamentos e transbordando da terna compaixão que sempre sentia no Senhor, diz se que Martinho se associou ao seu pranto e, voltando se para o Senhor, assim falou diante daqueles que choravam: «Senhor, se ainda sou necessário ao vosso povo, não me recuso a trabalhar; seja feita a vossa vontade».

Oh homem extraordinário, que não fora vencido pelo trabalho nem o haveria de ser pela morte e que, igualmente disposto a uma ou outra coisa, nem teve medo de morrer nem se furtou a viver! Entretanto, com as mãos e os olhos sempre elevados para o céu, o seu espírito invencível não abandonava a oração.

Quando os presbíteros, que se tinham reunido à sua volta, lhe pediram para aliviar o seu pobre corpo mudando de posição, disse: «Deixai me, irmãos, deixai me olhar antes para o céu do que para a terra, para que a minha alma, ao iniciar a sua marcha para Deus, siga bem o seu caminho». 

Ao dizer isto, reparou que o diabo se encontrava perto. «Porque estás aqui, disse, besta sanguinária? Nada encontrarás em mim, maldito; o seio de Abraão me recebe».

Depois de pronunciar estas palavras, entregou o seu espírito ao Céu. 

Martinho, cheio de alegria, foi acolhido no seio de Abraão. Martinho, pobre e humilde, entrou rico no Céu.

Das Cartas de Sulpício Severo (Epist. 3, 6.9-10.14.15-17.21; SC 133, 336-344) (Séc. V)

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