«Nós deixámos tudo para Te seguir»
"Então Pedro tomou a palavra e disse-Lhe: «Nós deixámos tudo para Te seguir. Que recompensa teremos?».
Jesus
respondeu: «Em verdade vos digo: no mundo renovado, quando o Filho do homem
vier sentar-Se no seu trono de glória, também vós que Me seguistes vos sentareis
em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel." (Mt. 19, 27-28)
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«Nós deixámos tudo para Te seguir»
«Nós deixámos tudo para Te seguir»; o que
se entende por «tudo»?
As coisas
exteriores e as coisas interiores; aquilo que possuíamos e a própria vontade de
possuir; deste modo, não nos resta absolutamente nada. [...]
Foi por
Ti que deixámos tudo e nos tornámos pobres. Mas, como Tu és rico, nós
seguimos-Te para que também nós enriqueçamos. Seguimos-Te a Ti!
Nós,
criaturas, seguimos-Te, a Ti, que és o Criador; nós, filhos, seguimos o pai;
nós, crianças, seguimos a mãe; nós, famintos, seguimos o pão; nós, sedentos,
fomos à fonte; nós, doentes, recorremos ao médico; nós, cansados, procurámos a
força; nós, exilados, visámos o paraíso. Nós seguimos-Te. [...]
«Que recompensa teremos?».
Apóstolos,
vós que encontrastes o vosso tesouro, vós que já o possuís, que procurais
ainda? [...]
Conservai
aquilo que encontrastes, porque é o que procuráveis. Aí se encontra, diz Baruc, a sabedoria, a prudência, a
força, a inteligência, a longevidade e o alimento, a luz dos olhos e a paz (cf
Ba 3,12-14).
Aí está a
sabedoria que tudo criou; a prudência que governa as coisas criadas; a força
que domina o demónio; a inteligência que tudo penetra; a longevidade que torna
eternos os que são salvos; o alimento que sacia; a luz que ilumina; a paz que
conforta e sossega. [...]
O Senhor
não responde: «Vós, que deixastes tudo»,
mas: «Vós que Me seguistes», pois é
isso que é próprio dos apóstolos e de quantos buscam a perfeição.
Há muitos
que deixam tudo, mas não é para seguir a Cristo;
são aqueles que, por assim dizer, não se deixam a si próprios.
Se queres seguir este fim e alcançá-lo, tens de te deixar a tu próprio. Quem segue alguém por um caminho não olha para si, mas para aquele que escolheu como guia para o seu percurso.
Santo António de Lisboa (c.
1195-1231), franciscano, doutor da Igreja | Sermão para a festa da Conversão de
São Paulo | Imagem
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Santo António de Lisboa
Filho de
ricos comerciantes portugueses, recebeu no Baptismo
o nome de Fernando Martins de
Bulhões. Nasceu em Lisboa, entre 1191 e 1195, cerca de 50 anos depois do
nascimento da nação portuguesa e no decurso da reconquista cristã do território
ao domínio muçulmano.
A sua
história deve ser vista nesse ambiente de expulsão dos muçulmanos e, ao mesmo
tempo, de emergência de uma nova nação.
Vive os
primeiros anos da sua vida a dois passos da Catedral de Lisboa, onde frequentou
os primeiros estudos, nas aulas de Gramática. Próximo dali, a cerca de um
quilómetro, fica o Mosteiro de São
Vicente de Fora, dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho.
Com cerca
de 15 anos de idade, Fernando pediu aos pais que o deixem entrar no Mosteiro e
aí fez o noviciado.
Depois,
cerca dos 19 ou 20 anos, foi terminar a sua formação intelectual em Santa Cruz de Coimbra, onde foi ordenado
Sacerdote.
Em
Coimbra teve a oportunidade de conhecer os Frades
Menores de São Francisco, que viviam no eremitério de Santo Antão, nos
Olivais, sobre uma colina, a Nordeste da cidade. Ler+