Essénios - Grupos religiosos em Israel no tempo de Jesus
Os Essénios
Após a
descoberta em Qumran, a partir de
1947, de celebérrimos manuscritos, a vida e doutrina dos Essénios passou a ser-nos muito melhor conhecida. Pois trata-se,
sem dúvida, da comunidade - autênticos monges dos manuscritos do Mar Morto.
O nome «Essénio» vem-nos de «hasin»
«hassidim»:
(homens) «piedosos». A si mesmos denominavam-se «eleitos», «santos», «pobres», «filhos da luz»... judeus que se haviam separado dos outros judeus
por os considerarem pouco piedosos e impuros.
O
movimento vem já de longe, decerto do pós-exílio, do esforço ingente de Esdras e Neemias por reconstruírem a nação e sobretudo o povo, purificando-o!
Depois,
no «período grego», a luta pela helenização violentamente empreendida, concretamente,
por Antíoco IV Epifânio (175-164
a.C.) originou o levantamento religioso e fanático judaico, personificado na
família dos Macabeus, acompanhado de
uma literatura com elementos especificamente escatológicos. É a típica literatura
da comunidade de Qumran.
Em pleno
deserto de Judá, perto do Mar Morto, afastado das vias de comunicação
entre as grandes cidades e em redor de enormes cisternas, estes «monges»
essénios levantaram o seu «mosteiro».
São
homens e mulheres que rejeitam a poligamia, o divórcio e o culto do Templo de Jerusalém; dedicam-se à
oração e ao estudo da «Lei» preparando assim, activamente, a vinda do Reino de
Deus.
Parece
que, mesmo sem viverem em Qumran,
muitos outros judeus piedosos comungavam dos seus ideais, vindo a formar, em Damasco e noutros lugares, uma espécie
de «ordem terceira» essénia!
Vida em comunidade
É uma
comunidade perfeitamente estruturada e jerarquizada: preside-os um chefe ou
inspector, considerado o pai da comunidade. Depois, os sacerdotes (detentores
de todo o poder), os levitas, os chefes laicos, e, por fim, os demais membros.
A obediência é norma absoluta.
A entrada
na comunidade faz-se por noviciado de dois anos, durante os quais os compromissos
de integração se vão assumindo gradualmente.
Com a
oração e o estudo da Lei, praticam uma total pureza (daí as contínuas
abluções), e seguem um certo dualismo religioso, isto é, a doutrina dos dois
espíritos, do bem e do mal, da luz e das trevas, talvez por influências persas
de Zoroastro.
Consequentemente,
o mundo é dividido em duas grandes partes: a dos bons e a dos maus. Os bons
viverão para sempre, enquanto os maus morrerão para sempre. As faltas pessoais
ficam absolvidas pelas abluções rituais e o jejum...
Com certeza São João Baptista conheceu a comunidade de Qumran pois, segundo os Evangelhos, viveu e pregou no deserto de Judá bem perto daquela zona.
Deve ter contactado,
também, com elementos ligados à seita pois, para além do grande «mosteiro»,
havia outras pequenas comunidades a eles ligadas e espalhadas por toda a parte,
com grande número de aderentes...
É
natural, igualmente, que Jesus Cristo
os conhecesse, e os fosse encontrando aqui e acolá. Mas só isso. Pois, para
além duma simpatia normal por pessoas justas e penitentes, o Evangelho é permanente condenação da
sua dureza e do seu messianismo político, justiceiro e vingador...
Os manuscritos de Qumran
Em 1947
deu-se, acidentalmente, uma das maiores descobertas arqueológicas de sempre:
numas grutas
escavadas nas rochas calcárias talhadas quase a pique, e por isso de dificílimo
acesso, junto ao Mar Morto, foram encontrados, além de instrumentos para o
sacrifício e peças de vestuário, 64 manuscritos do tempo de Cristo ou quase.
Desde
então, e no mesmo local, muitos outros manuscritos preciosos têm sido
encontrados, dos quais o mais antigo e precioso é, certamente o «primeiro rolo
de Isaías».
É um rolo
com 7,34 m de extensão e 26 cm de largura. Contém 54 colunas, nas quais temos o
livro do Profeta Isaías completo!
Deve ter
sido escrito cerca do ano 100 a.C., sendo por isso, de longe, o texto bíblico
mais antigo que possuímos.
Fonte:
“Atlas Bíblico Geográfico-Histórico”, J. Machado Lopes | Imagem