O Evangelista São Lucas – Médico de Antioquia da Síria
Lucas (grego: Loukas) – “luz”
Identificado por tradição como autor
do terceiro evangelho e do livro dos Actos dos Apóstolos, Lucas é
mencionado três vezes nas epístolas de Paulo.
Enquanto esteve sob prisão
domiciliária em Roma, entre 61 e 63 d. C., Paulo nomeou Lucas como «colaborador»
(Flm 24) e designou-o como «o caríssimo médico» (CI 4, 14). «Só Lucas
está comigo» (2 Tm 4, 11), escreveu o apóstolo na segunda daquelas que são
consideradas as suas três epístolas pastorais.
Com base nestas referências e em certos
factos dos dois livros do Novo Testamento que lhe são atribuídos, é
possível ficar-se com um retrato complexo deste primitivo chefe da igreja cristã.
Parece ter sido um pagão que se converteu
ao cristianismo, o qual, segundo uma fonte primitiva, era oriundo de Antioquia,
na Síria.
Como médico, era membro de uma profissão
altamente especializada, que às vezes, mas não sempre, estava associada ao deus
grego da medicina, Esculápio.
É óbvio que era um homem culto e
falava grego, a sua língua materna, como prova a sua produção literária.
Era também bem versado no Antigo
Testamento grego, que parece ter estudado intensivamente - um feito fora do
vulgar se Lucas era, de facto, pagão.
Uma vez que o evangelista não se
incluiu entre aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e se
tornaram servidores da palavra» (Lc 1, 2), Lucas provavelmente não conheceu Jesus
pessoalmente.
No entanto, como colaborador de Paulo,
devia ter sido membro da comitiva itinerante do apóstolo, ajudando-o nas suas
atividades missionárias através do mundo romano e talvez partilhando da prisão
com ele.
Desconhece-se quanto tempo Lucas
viajou com Paulo.
Alguns estudiosos pensam que as
passagens dos Actos, chamadas «secções-nós», onde a narração passa da
terceira para a primeira pessoa, se baseiam nos diários pessoais de Lucas.
Se assim for, sugerem que Lucas
acompanhou Paulo em muitas das suas viagens: de Troas a Filipos, de Filipos
a Mileto, de Mileto a Cesareia e finalmente de Cesareia a Roma.
Assim, Lucas andou com Paulo de vez
em quando, durante a segunda metade do seu ministério provavelmente durante as
derradeiras horas antes da morte do apóstolo em Roma, por volta de 64 d. C.
Após a morte de Paulo, Lucas
tornou-se evidentemente chefe da igreja na região da sua terra natal.
Lucas, o médico compassivo, trata de um doente que sofre. |
O Evangelho segundo São Lucas e os Actos dos Apóstolos
Nos anos 80 decidiu escrever uma
obra ambiciosa em dois volumes, dando um relato histórico e teológico da vida
de Cristo e das origens da igreja cristã.
Começou a sua obra com um prólogo
semelhante aos utilizados por muitos autores gregos, especificando que
utilizaria apenas as melhores fontes e organizá-las-ia pela sua ordem (Lc 1, 3).
Lucas observou que outras narrações
destas já tinham sido compiladas, uma afirmação que muitos estudiosos
consideram ser uma referência à sua utilização do Evangelho de Marcos,
uma colecção agora perdida de sentenças de Cristo por vezes referidas por «Q»
(de Quelle, palavra alemã que quer dizer «fonte»),
e de outras tradições acerca de Jesus e da igreja primitiva, bem como das suas
próprias memórias.
Dado que a sua narração do
nascimento de Jesus é parcialmente escrita da perspectiva de Maria, mãe de
Jesus, tem sido sugerido que ele realmente a entrevistou ou falou com
aqueles que a tinham conhecido - embora o próprio Lucas não dá qualquer indicação
de que tais conversas se tenham verificado.
Ambos os livros de Lucas foram
dedicados a um cristão desconhecido chamado Teófilo.
Talvez Teófilo fosse um
patrono rico, ou uma vez que o nome significa «amante de Deus» - Lucas poderia
ter estado a escrever para qualquer leitor cristão.
Lucas escreveu não só como
historiador, mas também como teólogo.
A sua mensagem faz realçar o lugar
da comunidade dos cristãos gentios no plano geral de Deus, demonstrando que o
próprio Jesus tinha equacionado a sua própria missão com a pregação dos profetas
do Antigo Testamento aos gentios.
«Em verdade vos digo», disse Jesus
na sinagoga de Nazaré, «nenhum profeta é bem recebido na sua pátria»
(Lc 4, 24).
Além disso, Lucas revelou nos Actos
que a difusão da mensagem cristã ao mundo gentio teve lugar de modo consistente
através da orientação do Espírito Santo.
Em consequência disso, Teófilo e os
seus companheiros foram assegurados de que, embora membros de uma comunidade
gentia, tinham pleno direito ao legado de Jesus.
Nada se sabe de Lucas a seguir à
compilação da sua grande obra em dois volumes, responsável por mais de um
quarto do Novo Testamento.
Mas o autor tem todo o direito a ser
distinguido como o primeiro historiador cristão. (1)
*****
São Lucas, evangelista e companheiro de Paulo
Quando, após
ter abandonado as trevas do erro para aderir ao amor de Deus, Paulo se junta ao
número dos discípulos, Lucas acompanha-o para todo o lado e torna-se seu
companheiro de viagem (cf At 16,10s). [...]
Dá-se tão bem
com ele, torna-se-lhe tão familiar e partilha de tal modo todas as suas graças
que Paulo, quando escreve aos crentes, se refere a Lucas como o seu bem-amado
(cf Col 4,14).
Desde Jerusalém
e por toda aquela região até à Dalmácia (cf Rom 15,19), pregou com ele o
Evangelho; da Judeia a Roma, partilhou com ele as correntes, os trabalhos, as
provações, os naufrágios. Queria receber a mesma coroa que ele, por ter participado
nos mesmos trabalhos.
Após ter
adquirido de Paulo o talento para a pregação e ter conseguido conduzir tantas
nações para o amor de Deus, Lucas surge, não só como o discípulo que ama e é
amado pelo Senhor, mas também como o evangelista que escreveu a sua história
sagrada, pois seguira o Mestre (cf Lc 10,1), fizera a recolha dos testemunhos
dos seus primeiros servos (Lc 1,1) e recebera inspiração do alto.
Foi ele o
evangelista que narrou o mistério do mensageiro Gabriel, enviado à Virgem para
anunciar a grande alegria a todo o mundo.
Foi ele que
narrou com clareza o nascimento de Cristo, revelando-nos o Recém-Nascido
deitado numa manjedoura e descrevendo a proclamação da grande alegria pelos
pastores e os anjos. [...]
Ele relata um
maior número de ensinamentos em parábolas que os outros evangelistas.
E, assim como
nos dá a conhecer a descida do Verbo, a Palavra de Deus, à Terra, também nos
descreve a sua ascensão ao Céu e o seu regresso ao trono do Pai (24,51). [...]
Mas a sua graça
não se fica por aqui, a sua língua não se limita ao serviço do Evangelho;
concluídos os milagres de Cristo, narra os Atos dos Apóstolos. [...] Lucas não
é um simples o espetador de todas estas coisas, mas participa verdadeiramente
nelas.
É por isso que
tem tanto cuidado em nos instruir.
Anónimo
bizantino (século XI) | Vida de São Lucas - 6-7; PG 115, 1134-1135
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São Lucas, companheiro e colaborador dos apóstolos
“Lucas era inseparável de Paulo e foi seu colaborador na pregação
do Evangelho, como ele próprio
evidencia, não para se glorificar, mas impelido pela verdade.
Com efeito,
quando Barnabé e João, chamado Marco, se separaram de Paulo e embarcaram para
Chipre, Lucas escreveu: «Embarcámos para
Tróade» (At 16,11) […]; e descreve detalhadamente toda a viagem e a sua
chegada a Filipos, onde anunciaram a Palavra pela primeira vez. […]
No relato da
viagem com Paulo, conta as situações com toda a precisão possível. […]
Tendo estado
presente em todos os acontecimentos, Lucas
registou-os de maneira rigorosa; não se encontra nele mentira nem orgulho,
porque todos aqueles factos eram conhecidos. […]
Lucas não foi apenas companheiro, foi
também colaborador dos apóstolos, sobretudo de Paulo, que o diz claramente nas
suas cartas: «Demas abandonou-me por amor
ao mundo presente e foi para Tessalónica; Crescente foi para a Galácia, e Tito
para a Dalmácia. Lucas é o único que está comigo» (2Tim 4,9-11).
Isto prova com
clareza que Lucas esteve sempre inseparavelmente ligado a Paulo.
Na carta aos Colossenses, também lemos: «Saúda-vos o amado Lucas, o médico» (Col
4,14). […]
Por outro lado,
conhecemos muitos acontecimentos do Evangelho – e dos mais importantes –
unicamente por Lucas. […]
Quem sabe, de
resto, se Deus não fez de modo que muitas passagens do Evangelho tivessem sido
reveladas apenas por Lucas […] para
que todos se deixassem guiar pelo testemunho que vem em seguida, [no seu
segundo livro] sobre os atos e a doutrina dos apóstolos, e, guardando
inalterada a regra da verdade, todos pudessem ser salvos.
Assim, o
testemunho de Lucas é verdadeiro; o
ensinamento dos apóstolos é manifesto, sólido, e nada esconde. […]
Tais são as
vozes da Igreja, de onde toda a Igreja retira a sua origem.”
Santo Ireneu de
Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir | Contra as Heresias, III, 14-15;
SC 34
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A Igreja Católica celebra a memória
litúrgica de São Lucas no dia 18 de Outubro.
São Lucas é o padroeiro dos pintores, médicos e artistas.
Sugestão: A vida nova em Cristo | És cristão… porquê?
Oração
Ó São Lucas, glorioso Apóstolo e evangelista,
eu te saúdo pelo Coração de Jesus;
e pela alegria e doçura que o teu coração sentiu
ao ensinar, do Divino Mestre,
o Pai Nosso aos Apóstolos.
Alcançai-me a graça
de seguir com fidelidade Jesus,
pelo seu caminho,
com a sua verdade a favor da vida.
Ó meu bom São Lucas,
médico, que com as tuas santas mãos,
invocando o nome de Deus,
curaste tantos enfermos de tão graves doenças,
rogai ao bom Jesus
que me livre das enfermidades do corpo e do espírito,
se for do agrado de Deus.
E para maior glória
por toda a eternidade.
São Lucas, rogai por nós!
(1) in “Grandes personagens da Bíblia – Dicionário Biográfico Ilustrado” (texto editado e adaptado)