S. Vicente, diácono e mártir (+304) – 22 de janeiro

S. Vicente, diácono e mártir (+304) – 22 de janeiro

Vicente de Saragoça foi um diácono mártir do início do século IV que sofreu o martírio em Valência (Espanha).

Ele ofereceu a Cristo o sacrifício da sua vida, juntamente com o seu bispo Valério, tal como tinha oferecido com ele o sacrifício do altar.

Durante o Império de Diocleciano, o delegado imperial Daciano moveu na Ibéria uma perseguição aos cristãos.

São Vicente recusou oferecer sacrifícios aos deuses e, depois de padecer cárceres, fome e torturas, terminou invicto o glorioso combate e subiu ao céu para gozar o prémio do seu martírio, no ano 304.

O seu culto logo se propagou por toda a Igreja.

São Vicente é o santo padroeiro de Lisboa, em cuja Sé se encontram algumas das suas relíquias.

Em Portugal é representado de modos diversos: com palma e evangeliário ou, mais habitualmente, com uma barca e um corvo.

De acordo com a tradição, em 1173, o rei D. Afonso Henriques ordenou que as relíquias do santo fossem trazidas do Cabo de S. Vicente (o então «Promontorium Sacrum»), junto a Sagres, para a cidade de Lisboa, e duas daquelas aves velaram o corpo do santo que seguia a bordo da barca – facto a que ainda hoje aludem as armas de Lisboa e de muitas outras povoações portuguesas.

Em França, S. Vicente é padroeiro dos vinhateiros e profissões afins, e tem como insígnias um cacho de uvas, para além da palma do martírio. (1)

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Vicente venceu onde o mundo foi vencido

A vós foi concedida a graça, não só de acreditardes em Cristo, mas também de sofrerdes por Ele.

Um e outro dom recebera o levita Vicente; recebera-os e guardara-os. Se os não tivesse recebido, como os guardaria? Tinha confiança na palavra, tinha coragem no sofrimento.

Ninguém se envaideça da sua força interior, quando fala; ninguém confie nas suas forças, quando sofre a tentação; porque, se falamos bem e com prudência, é d’Ele que vem a nossa sabedoria; e se suportamos os males com coragem, é d’Ele que vem a nossa força.

Recordai-vos de Cristo Senhor no Evangelho, exortando os seus; recordai-vos do Rei dos mártires, instruindo nas armas espirituais os seus exércitos, exortando-os para a guerra, fornecendo-lhes auxílio, prometendo a recompensa. Ele, que disse aos seus discípulos: Neste mundo haveis de sofrer, logo os consolou, ao vê-los assustados: Não temais; Eu venci o mundo.

Como nos admiraremos então, caríssimos, que Vicente tenha vencido n’Aquele que venceu o mundo? Neste mundo haveis de sofrer, diz o Senhor: o mundo persegue, mas não triunfa; ataca, mas não vence. O mundo conduz uma dupla batalha contra os soldados de Cristo: lisonjeia-os para os enganar, aterroriza-os para os quebrar. Não nos preocupe o nosso bem-estar, não nos assuste a crueldade alheia, e vencido está o mundo.

A ambas as brechas acorre Cristo, e o cristão não é vencido. Se neste martírio se considera a capacidade humana de o suportar, o facto torna-se incompreensível; mas se se reconhece o poder divino, nada tem de espantoso.

Era tanta a crueldade que afligia o corpo do mártir e tanta a tranquilidade que transparecia na sua voz, era tanta a dureza com que eram maltratados os seus membros e tão grande a segurança que ressoava nas suas palavras, que poderia parecer que, de algum modo maravilhoso, enquanto Vicente suportava o martírio, fosse torturada uma pessoa diferente da que falava.

E era realmente assim, irmãos, era mesmo assim: era outro que falava. Também isto o prometeu Cristo, no Evangelho, às suas testemunhas, quando as preparava para o combate. Na verdade, assim falou: Não vos preocupeis com o que haveis de dizer. Não sois vós que falais, mas o Espírito do vosso Pai que fala em vós.

Portanto, a carne era torturada e o Espírito falava: e enquanto o Espírito falava, não só era vencida a impiedade, mas também era confortada a fraqueza.

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Sermão 276.1-2: PL 38, 1256) (Séc. V) (2)


São Vicente, diácono e mártir, padroeiro de Lisboa

1 Evangelho Quotidiano + SNL

2 SNL

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