S. João Damasceno, presbítero e doutor da Igreja, +749
S. João Damasceno
Natural de Damasco, na Síria, João era filho de pais nobres e ricos,
célebres pela grande caridade que praticavam para com os pobres, encarcerados e
eremitas.
Recebeu
uma educação abrangente em ciências seculares e na fé cristã, com ênfase na filosofia,
teologia e literatura.
Apesar de
nessa época a Síria pertencer aos muçulmanos, tanto João como o seu pai eram
muito estimados, o que levou o Califa a nomear João prefeito de Damasco.
No
entanto, João não se sentia bem em tão importante elevada posição.
A palavra
do Salvador, que «é muito difícil a um
rico entrar no reino dos céus», desassossegava-o levando-o a renunciar a
todas as honras, a distribuir toda a fortuna entre os pobres e institutos
religiosos, e a entrar no convento de
S. Sabas, em Jerusalém.
O mestre
da Ordem, venerável ancião, deu-lhe as seguintes regras: «Não procures fazer nunca a tua vontade. Aprende a morrer a ti mesmo
para chegar ao completo desapego de todas as criaturas. Oferece a Deus as tuas
ações, sofrimentos e orações. Não te ensoberbeças em virtude dos teus
conhecimentos ou de qualquer outra coisa, mas convence-te cada vez mais de que
não és nada senão ignorância e fraqueza. Renuncia à vaidade; desconfia da tua
própria opinião e não queiras desejar aparições e privilégios extraordinários
do céu. Afasta da tua memória tudo o que te ligou ao mundo. Observa bem o
silêncio e fica sabendo que é fácil cometer pecado, não dizendo senão o bem».
João
observou fielmente todos estes conselhos e, dentro de pouco tempo, era
considerado, entre os companheiros de religião, o mais perfeito.
Em atenção
às suas virtudes, foi promovido ao sacerdócio.
Por essa
altura o imperador Leão Isáurico
publicou leis muito severas contra o culto das imagens.
João
escreveu três livros em defesa do culto das imagens argumentando que a
veneração de ícones e imagens não constituía idolatria, mas uma expressão
legítima da fé cristã: «Não venerais o
monte Calvário, a pedra do Santo Sepulcro, os livros do santo Evangelho, o
santo Lenho e os vasos sagrados? Que dúvida, pois, tendes de venerar as imagens
dos santos?».
E ainda
lembrou que não era da competência do imperador escrever sobre assuntos
religiosos, apenas lhe competia o governo do Estado.
A sua obra
mais conhecida é "Exposição da Fé
Ortodoxa", uma síntese da teologia cristã que se tornou uma referência
significativa na tradição teológica oriental.
Nesta
obra, abordou questões fundamentais da fé cristã, como a Santíssima Trindade, a Encarnação
e a Mariologia, entre outros temas
teológicos. Traduzida para latim por 1150, com o título de De fide orthodoxa,
esta obra tornou conhecidas no Ocidente as doutrinas dos Padres orientais.
Para além
das suas contribuições teológicas, São
João Damasceno é ainda reconhecido pelos seus hinos litúrgicos, muitos dos
quais ainda são entoados nas igrejas orientais até aos dias de hoje.
Mas o seu
legado transcendeu as suas contribuições intelectuais. Foi também um defensor
incansável da liberdade religiosa, lutando pela liberdade dos cristãos para
praticarem a sua fé sob a dominação islâmica.
A sua
coragem e devoção granjearam-lhe grande respeito e admiração entre os fiéis
S. João Damasceno, o último
dos Padres gregos, morreu pelo ano de 749.
Foi declarado doutor da Igreja por Leão XIII, em 1890. (1)
A sua memória litúrgica é celebrada a 4 de dezembro.
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Vós me chamastes, Senhor, para servir os vossos discípulos
Vós me
formastes, Senhor, do corpo de meu pai; Vós me formastes no ventre de minha
mãe; Vós me fizestes sair à luz, menino e nu, porque as leis da natureza seguem
sempre os vossos preceitos.
Com a
bênção do Espírito Santo preparastes a minha criação e a minha existência, não
por vontade do homem, nem por desejo da carne, mas pela vossa graça inefável.
Preparastes o meu nascimento com um cuidado superior ao das leis naturais,
fizestes-me sair à luz do dia adoptando-me como vosso filho e me contastes
entre os filhos da vossa Igreja santa e imaculada.
Vós me
alimentastes com o leite espiritual dos vossos divinos ensinamentos. Vós me
sustentastes com o vigoroso alimento do Corpo de Cristo, nosso Deus, vosso
Filho Unigénito, e me inebriastes com o cálice divino do seu Sangue
vivificante, que Ele derramou pela salvação de todo o mundo.
Porque
Vós, Senhor, nos amastes e nos destes o vosso único e amado Filho para nossa
redenção, que Ele aceitou voluntariamente e livremente; mais ainda, Ele mesmo
Se ofereceu em sacrifício como cordeiro inocente, porque sendo Deus Se fez
homem e por sua vontade humana Se submeteu, tornando-Se obediente a Vós seu Pai,
até à morte e morte de cruz.
E assim,
Senhor Jesus Cristo, meu Deus, Vos humilhastes para me levardes aos ombros como
ovelha perdida e me apascentastes em verdes pastagens; Vós me alimentastes com
as águas da verdadeira doutrina por meio dos vossos pastores, aos quais Vós
mesmo alimentais, para que, por sua vez, alimentem a vossa grei, escolhida e
nobre.
Agora,
Senhor, pela imposição das mãos do vosso sacerdote, Vós me chamastes para
servir os vossos discípulos. Não sei por que razão me escolhestes; só Vós o
sabeis.
Senhor,
tornai mais leve o peso dos meus pecados, com que Vos ofendi tão gravemente;
purificai o meu coração e a minha inteligência. Sede para mim como uma lâmpada
luminosa que me conduz pelo recto caminho.
Ponde as
vossas palavras nos meus lábios; dai-me uma linguagem clara e fácil, mediante a
língua de fogo do vosso Espírito, para que a vossa presença sempre me assista.
Apascentai-me,
Senhor, e apascentai Vós comigo, para que o meu coração não se desvie nem para
a direita nem para a esquerda; que o vosso Espírito me conduza pelo recto
caminho e as minhas obras se realizem segundo a vossa vontade até ao último
momento.
E Vós,
nobre vértice da mais íntegra pureza, ilustre assembleia da Igreja, que
esperais a ajuda de Deus, Vós, em quem Deus habita, recebei das nossas mãos a
doutrina da fé, que fortifica a Igreja, tal como no-la transmitiram os nossos
pais.
Da Exposição de São João Damasceno,
presbítero, sobre a fé (Cap. I: PG 95, 417-419) (Séc. VIII) (2)
Fontes: (1)
Santos de Cada Dia, Editorial Apostolado da Oração | (2) SNLiturgia