Saiu o semeador a semear...


A parábola…

«Escutai: o semeador saiu a semear. Enquanto semeava, uma parte da semente caiu à beira do caminho e vieram as aves e comeram-na. Outra caiu em terreno pedregoso, onde não havia muita terra e logo brotou, por não ter profundidade de terra; mas, quando o sol se ergueu, foi queimada e, por não ter raiz, secou. Outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram, sufocaram-na, e não deu fruto. Outra caiu em terra boa e, crescendo e vicejando, deu fruto e produziu a trinta, a sessenta e a cem por um.» E dizia: «Quem tem ouvidos para ouvir, oiça.»

Ao ficar só, os que o rodeavam, juntamente com os Doze, perguntaram-lhe o sentido da parábola. Respondeu: «A vós é dado conhecer o mistério do Reino de Deus; mas, aos que estão de fora, tudo se lhes propõe em parábolas, para que ao olhar, olhem e não vejam, ao ouvir, oiçam e não compreendam, não vão eles converter-se e ser perdoados.»

E acrescentou: «Não compreendeis esta parábola? Como compreendereis então todas as outras parábolas?

O semeador semeia a palavra. Os que estão ao longo do caminho são aqueles em quem a palavra é semeada; e, mal a ouvem, chega Satanás e tira a palavra semeada neles. Do mesmo modo, os que recebem a semente em terreno pedregoso, são aqueles que, ao ouvirem a palavra, logo a recebem com alegria, mas não têm raiz em si próprios, são inconstantes e, quando surge a tribulação ou a perseguição por causa da palavra, logo desfalecem. Outros há que recebem a semente entre espinhos; esses ouvem a palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as restantes ambições entram neles e sufocam a palavra, que fica infrutífera. Aqueles que recebem a semente em boa terra são os que ouvem a palavra, a recebem, dão fruto e produzem a trinta, a sessenta e a cem por um.» (Mc. 4, 3-20)

O semeador saiu a semear - Mc 4, 3 (*)

15. Esta parábola é fonte inspiradora para a evangelização. A semente é a Palavra de Deus (Lc 8, 11). O semeador é Jesus Cristo. Ele anunciou o Evangelho na Palestina há dois mil anos e enviou os seus discípulos a semeá-lo por todo o mundo. Hoje Jesus Cristo, presente na Igreja por meio do Seu Espírito, continua a semear a Palavra do Pai no campo do mundo.

A qualidade do terreno é sempre muito variada. O Evangelho cai à beira do caminho (Mc 4, 4), quando não é realmente escutado; cai em terreno pedregoso (Mc 4, 5), sem penetrar profundamente na terra; ou entre espinhos (Mc 4, 7) e é imediatamente sufocado no coração das pessoas, distraídas com muitas preocupações. Mas uma parte cai em terra boa (Mc 4, 8), isto é, em homens e mulheres abertos à relação pessoal com Deus e solidários como próximo, e produz frutos abundantes.

Jesus, na parábola, comunica a boa notícia de que o Reino de Deus chega até nós apesar das dificuldades do terreno, das tensões, dos conflitos e dos problemas do mundo. A semente do Evangelho fecunda a história da humanidade e preanuncia uma colheita abundante. Mas Jesus faz também uma advertência: a Palavra de Deus germina somente num coração bem preparado.

Olhar o mundo a partir da fé

16. A Igreja continua a semear o Evangelho de Jesus no grande campo de Deus. Os cristãos, inseridos nos mais variados contextos sociais, olham o mundo com os mesmos olhos com que Jesus contemplava a sociedade do seu tempo. De facto, o discípulo de Jesus Cristo participa, a partir de dentro, «nas alegrias e nas esperanças, nas tristezas e nas angústias das pessoas de hoje»1, olha para a história humana, participa nela, não apenas com a razão, mas também com a fé. A luz da fé o mundo manifesta-se, ao mesmo tempo, «criado e conservado pelo amor do Criador e caído, sem dúvida, sob a escravidão do pecado, mas libertado pela cruz e ressurreição de Cristo, vencedor do poder do Maligno…»2.

O cristão sabe que em cada realidade e acontecimento humano estão subjacentes ao mesmo tempo:

- a acção criadora de Deus que comunica a cada ser a sua bondade;

- a força que deriva do pecado, que limita e entorpece a pessoa humana;

- o dinamismo que nasce da Páscoa de Cristo, como semente de renovação, que confere ao crente a esperança de uma «consumação»3 definitiva.

Um olhar sobre o mundo que prescindisse de algum destes três aspectos não seria autenticamente cristão. Por isso, é importante que a catequese saiba iniciar os catecúmenos os catequizandos numa leitura teológica dos problemas modernos»4.

1 Gaudium et Spes 1

2 Gaudium et Spes 2

3 Ibid.

4 Cf. SRS 35 - João Paulo II, Exortação Apostólica Sollicitudo Rei Socialis (30 de Dezembro de 1987): AAS 87 (1995), pp. 5-41

(*) Directório Geral da Catequese – Secretariado Nacional da Educação Cristã