São João da Cruz também foi um poeta!
São João da
Cruz, de nome civil Juan de Yepes, nasceu no ano de 1542 em Fontiveros
(Ávila).
A morte do pai,
pouco depois do seu nascimento, transformou em pobreza a modéstia do seu lar.
Em 1551 foi com
a família residir para Medina del Campo e entrou num orfanato onde
tentou, sem êxito, aprender alguns ofícios humildes.
Depois, foi
menino de coro e trabalhou num hospital para pobres, prestando assistência aos
doentes e mendigando para sustento desse hospital.
Estudou
Humanidades nos Jesuítas, ingressando a seguir nos Carmelitas.
Ordenou-se
sacerdote em 1567 e estudou na Universidade de Salamanca.
Após ter
deixado esta universidade, começou a colaborar com Santa Teresa de Ávila
na reforma da Ordem Carmelita, procurando imprimir-lhe a pureza da regra
primitiva.
Na sequência de
contendas surgidas com os que se opunham a essa reforma, foi preso em Ávila.
Morreu a 14 de Dezembro de 1591.
A par da obra
de reformador dos Carmelitas, que a Igreja perseguiu e depois canonizou, ficou
como um dos maiores poetas e uma figura ímpar da espiritualidade ocidental.
A obra poética
de S. João da Cruz não ocupa mais que umas 40 páginas.
A sua escrita
em prosa é extensa, grande parte constituída pelos comentários aos três poemas
que são não só o ponto culminante da sua poesia como três dos mais belos poemas
da língua espanhola e, porventura, de qualquer língua, tradicionalmente
intitulados «Cântico Espiritual», «Chama de Amor Viva»,
«Noite Escura».
“S. João da
Cruz soube engastar seus valores numa poética que nos parece cada vez mais
luminosa e intacta com o passar do tempo.
Observamos também
como, por «bosques e espessuras» o frade descalço revelou uma
extraordinária prática de liberdade.
Libertou-se da situação
de emparedado nos calabouços de Toledo.
Instituiu a Nova
Ordem do Carmelo, fundando conventos.
Escreveu poesia
rara, mística, ecologista, requintadamente erótica e musical.
E, «caminhando
sem caminhar» percorreu mais de cinco mil quilómetros, a maior parte dos quais,
a pé por toda a Ibéria.” (Manuel H. Martinho)
“A Igreja deveria ter canonizado o pobre carmelita descalço pelos versos que escreveu, que, como mais nenhum em qualquer língua se ergueram à esfera do indizível; mas não, a Igreja o que terá tido em conta, por certo, foram os seus padecimentos, a sua prisão, os seus tormentos por difamação e luta pelo poder dentro da sua Ordem, tudo coisas que sucederam a tantas e tantas almas, desde que há igrejas e ambição e intolerância.” (Eugénio de Andrade)