São Charles de Foucauld (1858-1916) | Síntese biográfica e textos

São Charles de Foucauld  (1858-1916)

O seu nome completo era Charles Eugène de Foucauld de Pontbriand.

Nasceu em Estrasburgo, no dia 15 de setembro de 1858. Faleceu em Tamanrasset, no Saara argelino (Argélia francesa), no dia 1 de dezembro de 1916, com 58 anos de idade.

Oficial das Forças Armadas Francesas, tornou-se explorador, geógrafo e, posteriormente, religioso católico (missionário no Saara), eremita e linguista.

O seu processo de beatificação começou em 1927 (interrompido durante a guerra da Argélia e posteriormente retomado).

Foi declarado venerável pelo Papa João Paulo II, em 24 de abril de 2001, e beatificado pelo Papa Bento XVI em 13 de novembro de 2005. 

No dia 15 de maio de 2022, foi canonizado pelo Papa Francisco, na Praça de São Pedro. 

A sua festa litúrgica celebra-se no dia 1 de dezembro.

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Textos de São Charles de Foucauld: 

Bendito sejas, anjo da guarda!

“Hoje é o dia da tua festa, meu anjo bom. [...]

De todo o coração te digo aos pés de Jesus: Feliz dia! [...] Obrigado por todos os teus benefícios! Perdoa-me por todas as minhas ingratidões e por me comportar de forma tão desrespeitosa na tua presença, perdoa-me por te contristar tantas vezes! Guarda-me e ajuda-me cada vez mais! [...] A minha vontade é honrar-te e amar-te, tanto quanto Deus permite e quer. [...]

Nos dias de festa dos santos, em vez de lhes darmos presentes, pedimos-lhes graças; inspira-me o que mais te agrada que te peça, meu bom anjo, e pedir-to-ei: «Um grande respeito pela minha presença e pela presença de Deus [...], pensar, falar e agir como se estivesses constantemente sob o olhar de Jesus Nosso Senhor e sob o meu, e respeitar a nossa presença como seres muito amados e venerados. [...]

É isto que te peço para honra de Jesus, para minha honra, e para teu bem, meu filho».

Meu bom anjo, meu querido anjo, parece-me que me estás a dizer isto.

Prometo-te que o farei. Peço-te esta graça e prometo-te que procurarei ser-lhe fiel [...].

Se me atrevesse – e espero que isto não venha de mim, mas de Jesus – a oferecer-te alguma coisa neste dia de festa, para te agradecer a tua força, a tua assistência e a ajuda da tua graça, oferecer-te-ia o desejo de te amar cada vez mais, de crescer incessantemente no amor, na confiança e na devoção por ti, e de ter cada vez mais presente nos meus pensamentos o sentimento da tua presença abençoada.

Abençoado sejas, meu querido anjo da guarda, e feliz dia!

Abençoados sejais, anjos da guarda de toda a humanidade.”

São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara | Salmo 24, § 48

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Tende paz em Mim!

Como obteremos a paz? A paz perfeita só se encontra no Céu. [...]

Aqui na Terra, temos sempre de travar guerra contra o diabo, contra a nossa natureza corrompida, contra alguns seres humanos…

Mas, por outro lado, mesmo aqui na Terra, devemos estar em paz: em paz com Deus, pelo seu soberano amor e a sua santa vontade, pela perfeita aceitação de tudo o que acontece, a perfeita conformidade com a sua vontade bem-amada, essa vontade que é Ele;

em paz connosco mesmos, resistindo às tentações, mantendo a nossa consciência pura, sem nada a condenar-nos;

em paz com os outros, amando-os e permanecendo seus amigos mesmo quando são nossos inimigos, rezando pelas suas almas num sentimento de amizade e paz enquanto nos perseguem ou somos obrigados a resistir-lhes ou a atacar os seus erros e vícios [...].

Um dos melhores meios para conservar a paz, seja com Deus, seja connosco mesmos, seja com os outros homens, é o silêncio.

O silêncio recolhe-nos, dá-nos espírito de oração, deixa a nossa alma livre para se lançar em voo para Deus, longe das discussões humanas; este silêncio favorece a oração, a união a Deus, a paz profunda da alma, que já não vive para o mundo, mas que está perdida, mergulhada em Deus…

O silêncio ajuda-nos infinitamente a ter paz connosco mesmos: ele corta pela raiz muitos pecados e uma multidão de distrações [...].

Ajuda-nos a guardar a paz com os homens, impedindo que haja discussões, contendas, divergência de sentimentos nos relacionamentos, maledicências, enfim, todas as dissensões e todos os desentendimentos, todos os rancores que vêm da palavra [...].

Meu Deus, concedei-me a graça de ter esta paz, a paz da alma que não procura senão a Vós, não quer senão Vós, se separa de todos os ruídos vãos da Terra [...] e encontra em Vós a verdadeira paz, a única paz que podemos ter neste mundo.

São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara | § 66, salmo 33

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«Um só é o vosso Mestre e vós sois todos irmãos».

«Um só é o vosso pai, o Pai celeste, e vós sois todos irmãos».

Vós o dizeis claramente, Senhor Jesus: os homens formam uma grande família, são todos irmãos, tendo Deus como seu Pai comum; todos devem ter, pois, uns em relação aos outros, os pensamentos, as palavras e as obras que um pai quer que os filhos tenham entre si.

O amor que o melhor dos pais quer fazer reinar entre os seus filhos - é esse o amor que devemos ter a todos os homens, a cada um deles, sem exceção.

E Jesus, o nosso modelo, dá-nos o exemplo: Ele é Deus, que veio à Terra como homem para nos mostrar como quer que cada homem ame os outros homens.

O que faz Jesus? Vive trinta e quatro anos e dá o seu sangue no meio dos mais terríveis tormentos pela santificação e a salvação de todos os homens; e não apenas de todos em geral, mas de cada um em particular, de maneira que não existe homem algum acerca do qual não se possa dizer: Jesus morreu para salvar e santificar este homem.

Para além do preceito do amor fraterno, este é o exemplo que Jesus nos deu; como diz São Paulo, todos são nossos irmãos, resgatados por Cristo por alto preço! (cf 1Cor 6,20).

Todos os homens são verdadeiramente nossos irmãos em Deus, e todos os homens foram tão amados e estimados por Jesus que Ele morreu por cada um deles.

Todos os homens têm de nos aparecer como irmãos, cobertos pelo manto do sangue de Jesus.

São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara | § 79, salmo 40



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Tudo aquilo que fazemos ao próximo, é a Jesus que o fazemos!

“«Tive fome e destes-Me de comer»: nesta passagem, Nosso Senhor mostra-nos o verdadeiro motivo da esmola, o mais forte de todos, embora haja outros.

Temos de dar para obedecer à ordem tantas vezes repetida por Deus;

temos de obedecer para O imitar, a Ele que dá de forma tão liberal, para imitar Jesus, que deu tanto;

temos de dar porque o amor de Deus nos obriga a fazer refletir nos homens, seus filhos muito amados, o amor que Lhe temos; temos de dar por bondade, apenas para praticar, para cultivar a virtude que deve ser amada por si mesma, porque é um dos atributos de Deus, uma das suas bondades divinas, uma das perfeições de Deus, e portanto o próprio Deus;

mas o motivo mais forte de todos, aquele que nos estimula mais que todos os outros -- ainda que qualquer dos outros seja amplamente suficiente --, é que tudo aquilo que fazemos ao próximo, é a Jesus que o fazemos: isso nos levará a mudar, a reformar toda a nossa vida, a orientar todas as nossas ações, as nossas palavras, os nossos pensamentos. [...]

Tudo aquilo que fazemos ao próximo, é a Jesus que o fazemos!”

São Charles de Foucauld (1858-1916), eremita e missionário no Saara | Sobre o Evangelho

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«A tua fé te salvou»

“A  é o que faz com que acreditemos do fundo da alma [...] em todas as verdades que a religião nos ensina: no conteúdo da Sagrada Escritura e em todos os ensinamentos do Evangelho, enfim, em tudo o que nos é proposto pela Igreja.

O justo vive realmente desta   (Rom 1,17) porque, para ele, a  substitui a maior parte dos sentidos.

Ela transforma todas as coisas, de modo que os sentidos antigos já pouco podem servir à alma: por eles, a alma apenas percebe aparências enganadoras, enquanto a  lhe mostra a realidade.

O olho mostra-lhe um homem pobre; a  mostra-lhe Jesus  (cf Mt 25,40).

O ouvido fá-lo ouvir injúrias e perseguições; a  canta-lhe: «Alegrai-vos e rejubilai de alegria» (cf Mt 5,12).

O tato faz-nos sentir o apedrejamento recebido; a  diz-nos: «Sentiram grande alegria por terem sido considerados dignos de sofrer alguma coisa pelo nome de Cristo» (cf At 5,41).

 O olfato faz-nos sentir o incenso; a  diz-nos que o verdadeiro incenso «são as orações dos santos» (Ap 8,4).

Os sentidos seduzem-nos pela beleza criada; a fé pensa na beleza incriada e compadece-se de todas as criaturas, que são um nada e uma poeira ao lado dessa beleza.

Os sentidos têm horror à dor; a  bendi-la como a coroa do matrimónio que a une ao seu Bem-amado, a caminhada com o Esposo, a mão na sua mão divina.

Os sentidos revoltam-se contra a injúria; a  abençoa-a - «Abençoai os que vos maldizem» (Lc 6,28) - [...], achando-a doce, porque significa partilhar o destino de Jesus. [...]

Os sentidos são curiosos; a  nada quer conhecer: anseia por ser sepultada e quereria passar toda a sua vida imóvel ao pé do tabernáculo.”

In Retiro feito em Nazaré, 1897

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Segui o meu exemplo, velando no recolhimento!

“ [Nosso Senhor:] «E foi assim que vivi diante de vós olhos os três anos da minha vida pública, passando os dias a ensinar e a curar, a fazer o bem, primeiro às almas e depois aos corpos.

E à noite, o que fazia?

À noite, retirava-me para longe da multidão à qual Me tinha consagrado plenamente durante o dia e, buscando a solidão, encerrava-Me convosco numa casa hospitaleira, ou subia à montanha, a um cume deserto, e passava a noite em oração [...].

Passava a noite em recolhimento, em silêncio, longe das multidões, vigiando e rezando. [...] É esse o exemplo que vos deixo.

Foi por vós que o fiz: Eu, que sou suficientemente forte, suficientemente senhor de mim para estar, em toda a parte, a sós com o meu Pai, pois vejo-O sem cessar e estou sempre com Ele, não preciso da solidão para Me recolher, nem do silêncio para Lhe rezar, nem de orações específicas para Me unir a Ele.

No meio da multidão, enquanto falo, estou tão unido a Ele como na mais profunda solidão.

Não preciso de meditar para O conhecer, porque O conheço; não preciso de Me tornar forte pela sua contemplação, porque sou divinamente forte. [...]

Não preciso de solidão nem de vigília, de silêncio ou de oração, porque a oração decorre continuada e perfeitamente dentro de Mim. [...]

Foi para vos dar exemplo que passei tantas noites em vigília solitária, a rezar a meu Pai, sob o céu estrelado ou no segredo de um quarto fechado. [...]

Vendo que fiz tudo por vós, amai-Me e estimai-vos uns aos outros. [...] E segui o meu exemplo, [...] velando no recolhimento e no silêncio, rezando, contemplando e perdendo-vos em Deus».”

In «Oito dias em Efraim»

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