Santo Anjo da Guarda de Portugal – 10 de junho



Santo Anjo da Guarda de Portugal

No dia 10 de junho, celebra-se em Portugal a memória do santo Anjo da Guarda de Portugal, cujo culto era tradicional desde tempos remotos.

Esta celebração foi oficializada pelo papa Leão X em 1504, passando a ser celebrada com a maior solenidade em todas as cidades e vilas portuguesas.

No entanto, ganhou novo incremento quando se divulgou a tríplice aparição de um Anjo aos três pastorinhos de Fátima (duas na Loca do Cabeço, no lugar dos Valinhos, e outra junto ao poço do quintal de sua casa, chamado o Poço do Arneiro, no lugar de Aljustrel), afirmando ser o "Anjo da Paz, o Anjo de Portugal".

Também muito contribuiu o facto de Pio XII ter aprovado a inclusão desta memória no calendário litúrgico português.

Os Anjos

Os anjos, que fazem parte do mundo invisível a que se estende também a ação criadora de Deus, vivem inteiramente dedicados ao louvor e ao serviço de Deus.

A inteligência humana tem dificuldade em exprimir a natureza dessas criaturas espirituais.

A sua missão, porém, é-nos conhecida através da Bíblia, que, em tantos passos, dá testemunho acerca da existência dos Anjos.

«Anjo Custódio do Reino»

A pedido do rei D. Manuel I de Portugal, o Papa Júlio II instituiu em 1504 a festa do «Anjo Custódio do Reino» cujo culto já seria antigo em Portugal.

O pedido terá sido feito ao Papa Leão X e este autorizou a sua realização no terceiro domingo de julho.

A sua devoção quase desapareceu depois do séc. XVII, mas seria restaurada mais tarde, em 1952, quando mandada inserir no calendário litúrgico português pelo Papa Pio XII, para comemorar o dia de Portugal no 10 de junho.

Terá surgido pela primeira vez na Batalha de Ourique, em 1139, e a sua devoção deu uma tal vitória às forças de D. Afonso Henriques sobre os invasores muçulmanos que lhe deram a oportunidade de autoproclamar-se rei de Portugal.

Representações do «Anjo Custódio do Reino»

Há várias representações do «Anjo Custódio do Reino», nomeadamente as imagens:

-  do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra;

- da charola do Convento de Cristo de Tomar;

- a pintura da Igreja da Misericórdia de Évora;

- a iluminura do Livro de Horas de Dom Manuel

- e a que está no Museu Nacional de Machado de Castro, em Coimbra, atribuída a Diogo Pires.

*****

O ministério dos Anjos

“Diz o Profeta, falando ao Pai a respeito do Filho: Fizeste-O um pouco inferior aos Anjos.

Assim convinha, com efeito, que superasse os Anjos na humildade Aquele que os superava na sublimidade da sua glória, e que fosse tanto menor que eles quanto é inferior o ministério a que Se consagrou.

E, no entanto, Ele é tanto superior aos Anjos quanto mais excelso que o deles é o nome que recebeu em herança.

Mas talvez perguntes: Em que é que Ele Se fez inferior aos Anjos, quando veio para servir, uma vez que também os Anjos, como dizíamos acima, são enviados para exercer um ministério?

É que Ele não só serviu mas também foi servido, e era o mesmo Aquele que servia e era servido.

Justamente por isso, dizia a Esposa no Cântico dos Cânticos: Ele aí vem, atravessando as montanhas, elevando-se sobre as colinas.

Quando serve, Ele atravessa por entre os Anjos, mas quando é servido eleva-Se muito acima deles.

Os Anjos servem, mas do que não lhes pertence: oferecem a Deus as boas obras, não suas mas nossas, e trazem-nos a graça, não sua mas de Deus.

Por isso, quando a Escritura diz que o fumo dos aromas subia das mãos do Anjo à presença de Deus, teve o cuidado de advertir anteriormente que lhe tinham sido dados muitos aromas.

São os nossos suores e não os seus, as nossas lágrimas e não as suas que eles oferecem a Deus; e os dons que nos trazem também não são seus, mas de Deus.

Não é assim aquele Servo, mais sublime que todos os outros, mas também mais humilde que todos.

Ofereceu-Se a Si mesmo como sacrifício de louvor; ofereceu ao Pai a sua vida e nos dá ainda hoje a sua carne.

Não admira, portanto, que, por causa de tão glorioso Servo, os santos Anjos se dignem, ou melhor, queiram da melhor vontade, assistir-nos. Eles amam-nos, porque Cristo nos amou.

Digo-vos isto, meus irmãos, para que de hoje em diante tenhais maior confiança nos santos Anjos e invoqueis com maior familiaridade o seu auxílio em todas as necessidades, e também para que procureis tornar a vossa vida mais digna da sua presença, conciliar cada vez mais os seus favores, captar a sua benevolência, implorar a sua clemência.

Sendo assim, pensai bem quanta solicitude devemos ter também nós, irmãos caríssimos, para nos tornarmos dignos da sua companhia, para vivermos na presença dos Anjos, de modo a não ofendermos nunca a santidade do seu olhar.

Ai de nós, se alguma vez, provocados pelos nossos pecados e negligências, nos julgarem indignos da sua presença e da sua visita, e tivermos de chorar e dizer com o Profeta: os meus amigos e companheiros fogem da minha desgraça e os que andavam comigo ficam ao longe, enquanto os violentos procuram tirar-me a vida.

Porque, então, teríamos realmente afastado de nós aqueles que com a sua presença podiam amparar-nos e repelir o inimigo.

Por isso, se nos é tão necessária a companhia familiar que se dignam ter connosco os Anjos, evitemos com todo o cuidado ofendê-los e exercitemo-nos com generosidade nas obras que sabemos serem do seu agrado.

Há de facto muitas coisas que lhes agrada e deleita encontrar em nós: sobriedade, castidade, pobreza voluntária, frequentes gemidos e súplicas ao Céu, orações com lágrimas e de coração atento.

Mas o que acima de tudo exigem de nós os Anjos da paz é a união e a paz.

Será, porventura, estranho que eles ponham as suas delícias principalmente nestas virtudes que reproduzem uma certa imagem da sua cidade e que lhes permitem admirar uma nova Jerusalém na terra?

Digo-vos, portanto, que assim como aquela cidade santa forma tão belo conjunto pela sua perfeita unidade, assim também nós devemos manter a unidade de sentimentos e doutrina, afastando do meio de nós toda a espécie de cisma, para formarmos todos um só Corpo em Cristo.

Dos Sermões de São Bernardo, abade (Sermão 1, Na Festa de S. Miguel Arcanjo, 2-3.5: Opera omnia, Ed. Cisterc. 5 [1968], 295-297) (Sec. XII) (texto editado)

Fontes: SNL | Opus Dei | Evangelho quotidiano

Sugestões: