Anjos – intermediários entre Deus e os homens
Abraão e os três Anjos (quadro de Tiepolo) |
Os anjos
(do grego angelos, «mensageiro», «enviado») são seres
espirituais criados por Deus, a quem servem, intermediários entre este e o homem.
Nos primórdios da
cristandade tentou-se estabelecer uma hierarquia da corte celeste, na qual os
anjos ocupavam o nono lugar na escala hierárquica dos espíritos puros
(serafins, querubins, tronos, dominações, principados, potestades, virtudes,
arcanjos e anjos), classificação há muito tornada obsoleta.
A crença nos Anjos
tem lugar não só no Antigo e Novo Testamentos mas também em certos cultos
religiosos do Egipto, Irão, Índia e China.
Contudo, as
opiniões são divergentes quanto à admissão de corporeidade nos anjos e ainda quanto
à sua origem, natureza, funções, etc.
A Sagrada
Escritura diz que foram criados por Deus antes do homem, tendo sido
sujeitos a uma prova (que não se sabe ao certo qual foi; no entanto, admite-se
que o pecado a resistir fosse a soberba).
Os que dela
triunfaram são os Anjos bons ou Anjos da Luz.
Os outros, que
Deus lançou no abismo, são os Anjos maus ou Anjos das Trevas:
Satã, Belzebu, etc.
Já no Antigo
Testamento são os mensageiros de Deus, ver o «exército do céu» (1Rs 22, 19),
se não mesmo a manifestação do próprio Deus.
Assim, no Livro
de Tobias, o anjo Rafael, que significa «Deus cura», é enviado
por Deus para libertar o pai, Tobite, e a esposa do herói, e Sara.
Tobias e o Anjo (pormenor) Santi di Tito, século XVI. Óleo s/ tela. Paris, Igreja de Santo Eustáquio |
Mas no Novo
Testamento, os anjos cumprem outras missões.
Nos Evangelhos,
os anjos intervêm sobretudo para anunciar o nascimento e a Ressurreição de Jesus:
por exemplo, Gabriel («Homem de Deus») avisa Maria da vinda de
uma criança chamada Jesus (Lc 1, 26-38), acontecimento designado Anunciação.
Nos Atos dos
Apóstolos, um deles liberta Pedro (Act 12), ao passo que no Apocalipse
que é atribuído a São João, Miguel («Que é como Deus»),
ajudado por outros anjos, depois de um combate, expulsa do céu o anjo mau, o «enorme Dragão» (o Diabo),
e os seus esbirros (Ap 12).
De entre os
anjos bons, podemos também considerar os Anjos Custódios, tanto dos
indivíduos como das Nações (que por eles velam, cuidando da sua salvação e
servindo de medianeiros em relação a Deus).
O Anjo
Custódio dos indivíduos chama-se Anjo da Guarda.
Atualmente, têm
a sua festa a 2 de outubro (igreja latina).
Em Portugal, no
dia 10 de junho, celebra-se a Festa do Anjo da Guarda de Portugal.
Os anjos foram
representados pelos artistas plásticos por formas humanas aladas (como de resto
o foram todos os outros espíritos puros) ou crianças louras de cabelo encaracolado,
rechonchudas e sorridentes, de asas graciosas - atributos herdados de crenças antigas.
Por vezes,
reduzem-nos a uma cabeça de menino com duas asas.
São tema de
numerosos quadros, assim como de iconografias.
Quanto à noção
de «anjos-da-guarda», apenas foi desenvolvida pela cristandade no século
XII.
O ramo da teologia
que se ocupa do seu estudo denomina-se angelologia.
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Santos Anjos da Guarda - celebração a 2 de outubro
"Os Anjos são antes de tudo os mediadores
das mensagens da verdade Divina, iluminam o espírito com a luz interior da
palavra.
São também
guardiões das almas dos homens, sugerindo-lhes as diretivas Divinas; testemunhas
invisíveis dos seus pensamentos mais escondidos e das suas ações boas ou más,
claras ou ocultas, assistem os homens para o bem e para a salvação.
São Gregório Magno diz, que quase cada
página da Revelação escrita, atesta a existência dos Anjos.
No Novo Testamento aparecem no Evangelho da infância, na narração das
tentações do deserto e da consolação de Cristo no Getsémani.
São testemunhas
da Ressurreição, assistem a Igreja
que nasce, ajudam os Apóstolos e transmitem a vontade Divina.
Os Anjos
preparam o juízo final e executarão a sentença, separando os bons dos maus e
formarão uma coroa ao Cristo triunfante.
Eles, os Anjos,
são mencionados mais de trezentas vezes no Antigo Testamento.
Além de todas
essas referências bíblicas, que por si só justificam o culto especial que os
cristãos reservam aos anjos desde os primeiros tempos, é a natureza destes
"espíritos puros" que estimula nossa admiração e nossa devoção.
Dizia Bozzuet :
"Os Anjos oferecem a Deus as nossas
esmolas, recolhem até os nossos desejos, fazem valer diante de Deus os nossos
pensamentos... Sejamos felizes por ter amigos tão prestáveis, intercessores tão
fiéis, intérpretes tão caridosos."
Fundamentando a
verdade de fé, a Igreja diz-nos que cada cristão, desde o momento do batismo, é
confiado ao seu próprio Anjo, que tem a incumbência de guardá-lo, guiá-lo no
caminho do bem, inspirando bons sentimentos, proporcionando a livre escolha que
tem como meta Deus, Supremo Bem.
A liturgia do dia 29 de setembro, em que
celebramos São Miguel, São Gabriel e São Rafael, lembra ao mesmo tempo todos os coros angélicos: os Anjos, os Arcanjos, os Tronos, as
Dominações que adoram, as Potestades que tremem de respeito diante da Majestade
Divina, os céus, as virtudes, os bem-aventurados serafins e os querubins.
O início da celebração da festa distinta para os Santos Anjos da Guarda deu-se no século XVI, universalizada pelo Papa Paulo V, depois de, em 1508, Leão X ter aprovado o novo Ofício composto pelo franciscano João Colombi." (Evangelho Quotidiano)
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Anjo. Pormenor do políptico do Juízo Final. Rogier Van der Weyden, cerca de 1445-1450. Óleo s/ madeira. Beaune, Hôtel-Dieu |
«O sexo dos anjos»
«Discutir o
sexo dos anjos» é uma expressão que se utiliza para nos referirmos à discussão
sobre assunto inútil ou sobre o qual não é possível chegar a uma conclusão ou a
um acordo, particularmente quando existem problemas mais importantes para
resolver.
Esta expressão
terá tido origem no séc. XV, em Constantinopla.
No ano de 1453,
durante o cerco de Constantinopla, também conhecida como Bizâncio,
a atual Istambul, na Turquia, e ao tempo capital do Império Romano do
Oriente, também conhecido como Império Bizantino.
Enquanto que o
imperador Constantino XI, tentava resistir aos violentos ataques dos
turcos, que queiram conquistar a cidade, as autoridades cristãs, em estado
calmo e sereno, estavam reunidas num concílio e debatiam questões teológicas.
Um dos tópicos de discussão era precisamente se os anjos tinham sexo ou não.
Entretanto,
Constantinopla era conquistada, e o Império Bizantino terminava com a
morte sangrenta do imperador e de milhares de pessoas.
Quanto ao
debate em causa, segundo se sabe, ninguém chegou a uma conclusão satisfatória…
Mas a expressão manteve-se e ainda hoje é usada.
As Imagens dos Anjos
Deus ordenou
que se fizessem imagens de Anjos (querubins), para ornamentar a Arca da
Aliança, simbolizando o quão ela era sagrada e já mostrando o valor da veneração.
E isso não é idolatria:
"Farás também dois querubins de ouro; de ouro
batido os farás, nas duas extremidades do propiciatório.
Farás um querubim numa extremidade e o outro
querubim na outra extremidade; de uma só peça com o propiciatório fareis os
querubins nas duas extremidades dele.
Os querubins estenderão as suas asas por
cima do propiciatório, cobrindo-o com as asas, tendo as faces voltadas um para
o outro; as faces dos querubins estarão voltadas para o propiciatório."
(Ex 25, 18-20)
Do mesmo modo,
também foram feitas imagens de Anjos e outras figuras (I REIS 6,35) para
ornamentar o Templo, assim como temos imagens em nossas igrejas católicas e
isso foi agradável a Deus, pois " a
glória do Senhor encheu o templo" (I REIS 8, 10-11).
Podemos orar
diante das imagens, pois a nossa oração é direcionada para aquele, ou aqueles
que elas representam como os israelitas diante da imagem da serpente de bronze
(Num 21, 8-9) ou diante da Arca, símbolo da presença de Deus (Números 7,89;
10,35) , diante dos querubins da Arca (Ex 25, 18-22) e do templo (IRe 6, 35)
Fontes: “Abecedário
do Cristianismo” | Nova Enciclopédia Portuguesa
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Bendito sejas,
anjo da guarda!
“Hoje é o dia
da tua festa, meu anjo bom. [...]
De todo o coração te digo aos pés de Jesus: Feliz dia! [...]
Obrigado por todos os teus benefícios!
Perdoa-me por todas as minhas ingratidões e por me comportar de forma tão desrespeitosa na tua presença, perdoa-me por te contristar tantas vezes!
Guarda-me e ajuda-me cada vez mais! [...]
A minha vontade é honrar-te e
amar-te, tanto quanto Deus permite e quer. [...]
Nos dias de
festa dos santos, em vez de lhes darmos presentes, pedimos-lhes graças;
inspira-me o que mais te agrada que te peça, meu bom anjo, e pedir-to-ei: «Um
grande respeito pela minha presença e pela presença de Deus [...], pensar,
falar e agir como se estivesses constantemente sob o olhar de Jesus Nosso
Senhor e sob o meu, e respeitar a nossa presença como seres muito amados e
venerados. [...]
É isto que te
peço para honra de Jesus, para minha honra, e para teu bem, meu filho».
Meu bom anjo,
meu querido anjo, parece-me que me estás a dizer isto.
Prometo-te que
o farei. Peço-te esta graça e prometo-te que procurarei ser-lhe fiel [...].
Se me atrevesse
– e espero que isto não venha de mim, mas de Jesus – a oferecer-te alguma coisa
neste dia de festa, para te agradecer a tua força, a tua assistência e a ajuda
da tua graça, oferecer-te-ia o desejo de te amar cada vez mais, de crescer
incessantemente no amor, na confiança e na devoção por ti, e de ter cada vez
mais presente nos meus pensamentos o sentimento da tua presença abençoada.
Abençoado
sejas, meu querido anjo da guarda, e feliz dia!
Abençoados sejais,
anjos da guarda de toda a humanidade.”
São Charles de Foucauld (1858-1916),
eremita e missionário no Saara | Salmo 24, § 48
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