Santo Ireneu, bispo e mártir (c. 130 - c. 202)
Ireneu nasceu por volta do ano 130 e foi
educado em Esmirna.
Foi
discípulo de são Policarpo, bispo
desta cidade, e guardou fielmente a memória dos tempos apostólicos.
No ano 177
era presbítero em Lyon, na França, e, pouco tempo depois, foi eleito bispo da
mesma cidade, sucedendo ao bispo são
Potino.
Segundo a
tradição, recebeu como ele a coroa do martírio, por volta do ano 202.
Foi
promotor da reconciliação na controvérsia sobre a Páscoa, tutelou a integridade
da doutrina cristã, ameaçada pelo gnosticismo,
aprofundou em obras de grande valor a compreensão das Escrituras e dos
mistérios da fé. (1)
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A glória de Deus é o homem vivo e a vida do
homem é a visão de Deus
“Participam
da vida os que vêem a Deus, porque é o esplendor de Deus que dá a vida.
Por isso,
Aquele que é inacessível, incompreensível e invisível, torna-Se visível,
compreensível e acessível para os homens, a fim de dar vida aos que O alcançam
e vêem.
Porque é
impossível viver sem a vida; e não há vida sem a participação de Deus,
participação que consiste em ver a Deus e gozar da sua bondade.
Portanto,
os homens hão-de ver a Deus para poderem viver; por esta visão tornam-se
imortais e chegam até à posse de Deus.
Isto foi
anunciado pelos Profetas, de modo figurado, como disse há pouco: Deus será
visto pelos homens que possuem o seu Espírito e aguardam sempre a vinda do
Senhor.
Assim diz
também Moisés no Deuteronómio: Nesse dia veremos, porque Deus falará ao homem e
o homem viverá.
Deus, que
realiza tudo em todos, é invisível e indescritível, quanto ao seu poder e à sua
grandeza, para os seres por Ele criados.
Mas não é
desconhecido, porque todos sabemos, por meio do seu Verbo, que há um só Deus
Pai que abrange todas as coisas e a tudo dá existência, como está escrito no
Evangelho: Ninguém jamais viu a Deus; o Filho Unigénito que está no seio do Pai
no-l’O deu a conhecer.
Quem desde
o princípio nos dá a conhecer o Pai é o Filho, porque desde o princípio está
com o Pai: as visões proféticas, a diversidade de graças, os ministérios, a
glorificação do Pai, tudo isto, como uma sinfonia bem composta e harmoniosa,
Ele o manifestou aos homens, no tempo próprio, para seu proveito.
Porque
onde há composição há harmonia; onde há harmonia tudo sucede no tempo próprio;
e quando tudo sucede no tempo próprio, há proveito.
Por isso o
Verbo tornou-Se o administrador da graça do Pai, para proveito dos homens, em
favor dos quais Ele pôs em prática a sua tão sublime economia da graça,
mostrando Deus aos homens e apresentando o homem a Deus.
Manteve,
no entanto, a invisibilidade do Pai, para que o homem se conserve sempre reverente
para com Deus e tenha um estímulo para o qual deve progredir; mas, ao mesmo
tempo, mostrou também que Deus é visível aos homens por meio da economia da
graça, para não suceder que o homem, privado totalmente de Deus, chegasse a
perder a sua própria existência.
Porque a
glória de Deus é o homem vivo, e a vida do homem é a visão de Deus.
Com
efeito, se a manifestação de Deus, através da criação, dá a vida a todos os
seres da terra, muito mais a manifestação do Pai, por meio do Verbo, dá vida a
todos os que vêem a Deus.”
Liturgia
das Horas | Do Tratado de Santo Ireneu, bispo, «Contra as heresias» (Livro 4,
20, 5-7: SC 100, 640-642.644-648) (Sec. II)
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«A lei perfeita, a lei da liberdade» (Tg 1,25)
“A
quem te tirar a túnica, diz Cristo, dá-lhe também o manto; a quem
ficar com o que te pertence, não lho reclames; e aquilo que quiserdes que os
outros vos façam, fazei-o vós a eles (Mt 5,40; Lc 6,30-31).
Deste
modo, não nos entristeceremos, como pessoas a quem arrebatam os bens contra a
sua vontade, mas, pelo contrário, alegrar-nos-emos, como pessoas que dão de bom
grado, uma vez que faremos ao próximo um dom gratuito em vez de cedermos a uma
pressão.
E
diz ainda: se alguém te obrigar a caminhar uma milha, caminha duas com ele;
desse modo, não o seguimos como um escravo mas precedemo-lo como homens livres.
Em
todas as coisas, portanto, Cristo convida-te a tornares-te
útil ao teu próximo, não considerando a sua maldade mas acrescentando a tua
bondade.
Convida-nos assim a tornar-nos semelhantes ao nosso Pai
«que faz nascer o sol sobre os maus e sobre os bons e cair a chuva sobre os
justos e sobre os injustos» (Mt 5,45).
E
isto não é obra de quem vem abolir a Lei mas de quem a cumpre
e a alarga (Mt 5,17).
O
serviço da liberdade é um serviço mais amplo; o nosso libertador propõe-nos uma
submissão e uma devoção mais profundas.
Porque
Ele não nos libertou das amarras da Lei antiga para nos
separarmos dele [...], mas para que, tendo recebido mais abundantemente a sua
graça, O amemos mais e, tendo-O amado mais, recebamos dele uma glória ainda
maior quando estivermos para sempre na presença de seu Pai.”
Santo Ireneu de Lyon (c. 130-c. 208), bispo, teólogo, mártir | Contra as Heresias, IV, 13, 3
(1) Fonte