Arianismo, heresia contra a distinção de Pessoas na Santíssima Trindade
O arianismo
A
formulação do dogma trinitário foi a grande empresa teológica do século IV,
e a ortodoxia católica teve o Arianismo como adversário.
O Arianismo entroncava em certas doutrinas antigas que acentuavam de modo exagerado e unilateral a unidade de Deus, a ponto de
- destruírem a distinção de Pessoas na Santíssima Trindade - «Sabelianismo» -
ou de «subordinarem» o Filho ao
Pai, fazendo-O inferior a Este - «Subordinacionismo».
Os
ensinamentos do presbítero alexandrino Ario (256-336) eram inspirados
por um Subordinacionismo radical, o qual não só fazia o Filho inferior ao Pai,
como negava inclusivamente a sua natureza divina.
A unidade
absoluta de Deus proclamada por Ario leva a considerar o Verbo apenas
como a mais nobre das criaturas, não Filho natural, mas filho adoptivo de Deus,
ao qual de modo impróprio era lícito chamar também Deus.
A
doutrina ariana revelava uma clara influência da filosofia helenística, com a
sua noção de Deus supremo - o Summus Deus - e um conceito do
Verbo muito afim do Demiurgo platónico, ser intermédio entre Deus e o mundo, e
artífice, ao mesmo tempo, da criação.
A relação
existente entre Arianismo e filosofia grega explica a sua rápida difusão e o
favorável acolhimento que encontrou entre os intelectuais racionalistas
impregnados de helenismo.
As
consequências do Arianismo para a fé cristã eram gravíssimas e afetavam o
dogma da Redenção, que teria carecido de eficácia se o Verbo encarnado – Cristo
- não fosse verdadeiro Deus.
A Igreja
de Alexandria apercebeu-se da transcendência do problema e, após tentar
dissuadir Ario do seu erro, procedeu à sua condenação num sínodo de bispos do
Egipto (318).
O Arianismo,
porém, tinha-se convertido já num problema de dimensão universal, que exigiu a
convocação do primeiro concílio ecuménico da história cristã.
O concílio I de Niceia (325) significou um triunfo rotundo para os defensores da
ortodoxia, entre os quais se destacavam o bispo espanhol Ósio de Córdova
e o diácono - mais tarde bispo de Alexandria, Atanásio.
O concílio
definiu a divindade do Verbo, empregando um termo que exprimia de modo
inequívoco a sua relação com o Pai: homoousios, «consubstancial».
O
«Símbolo» niceno proclamava que o Filho, Jesus Cristo, «Deus de Deus, Luz da
Luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro, gerado, não «criado» é «consubstancial»
ao Pai. (…)
A teologia trinitária
A
teologia trinitária foi completada no concílio I de Constantinopla com a
definição da divindade do Espírito Santo, ante a heresia que a negava: o
Macedonismo.
Deste
modo, antes de finalizar o século IV, a doutrina católica da Santíssima
Trindade ficou fixada no seu conjunto no «Símbolo niceno-constantinopolitano».
Havia, contudo, um aspeto da teologia trinitária não declarado expressamente no Símbolo: as relações do Espírito Santo com o Filho.
Este daria lugar mais tarde
à célebre questão do Filioque, destinada a converter-se em pomo de
discórdia entre o Oriente e o Ocidente cristãos.
Fonte: História Breve do Cristianismo, José Orlandis (texto editado e adaptado) | Imagem