Santa Gertrudes de Helfta | vidente do Sagrado Coração de Jesus


Santa Gertrudes de Helfta

Santa Gertrudes de Helfta, vidente do Sagrado Coração de Jesus, é a padroeira das pessoas místicas.

Nasceu na Alemanha, a 6 de janeiro de 1256, e foi enviada aos 5 anos de idade para estudar no mosteiro beneditino de Helfta, onde sua irmã, Santa Matilde, foi abadessa e sua professora.

Já na adolescência, e depois de professar e tomar o hábito, ela tornou-se amiga de Santa Matilde de Hackeborn, que também era especial devota do Sagrado Coração de Jesus.

Efetivamente, muitos séculos antes que Jesus aparecesse a Santa Margarida Maria Alacoque, Santa Gertrudes de Helfta teve experiências místicas com o Seu Sagrado Coração.

Visões

Esta religiosa, de comunhão frequente e vívida devoção a São José, terá chegado, em duas visões, a reclinar a cabeça sobre o peito de Jesus, ouvindo as batidas do Seu Coração.

Numa outra visão, Santa Gertrudes perguntou a São João Evangelista (o discípulo que tinha reclinado a cabeça junto ao Coração de Cristo durante a Última Ceia), por que é que ele nada tinha escrito sobre o Coração de Jesus

O Apóstolo respondeu que a revelação do Sagrado Coração de Jesus estava reservada para tempos posteriores, quando a frieza do mundo viesse a precisar de modo especial de um reavivamento no amor.

As almas do Purgatório

Numa das suas visões, Santa Gertrudes recebeu de Jesus uma oração breve, mas muito especial, pois toda a vez que ela a rezasse, Ele poderia libertar mil almas do purgatório:

Eterno Pai, ofereço-Vos o Preciosíssimo Sangue de Vosso Divino Filho Jesus, em união com todas as Missas que hoje são celebradas em todo o mundo; por todas as santas almas do purgatório, pelos pecadores de todos os lugares, pelos pecadores de toda a Igreja, pelos de minha casa e de meus vizinhos. Amém.

Revelações de Santa Gertrudes

São cinco os livros que constituem o “Arauto da Amorosa Bondade de Deus”, também conhecidos como “Revelações de Santa Gertrudes”, e a esta santa são atribuídos direta ou indiretamente:

- o primeiro volume foi escrito por amigos íntimos de Santa Gertrudes;

- o segundo foi escrito pela santa,

- e os seguintes foram redigidos sob a sua direção.

Os textos falam das suas experiências místicas e, entre outras lições, tratam da relação entre sofrimento e graça: “A adversidade é a aliança espiritual que sela os esponsais com Deus”, lê-se numa passagem.

De facto, Santa Gertrudes sofreu enfermidades dolorosas durante dez anos até partir desta vida para a Casa do Pai em 17 de novembro de 1301 ou 1302.

O Papa Clemente XII, em 1677, determinou que a memória litúrgica de Santa Gertrudes fosse celebrada em toda a Igreja, no dia 16 de novembro. (1)


Santa Gertrudes na Basílica de Nossa Senhora da Assunção do Mosteiro de São Bento na cidade de São Paulo, obra de Adrien Henri Vital van Emelen.

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«Onde estiver o teu tesouro, aí estará o teu coração»

“Procurando um dia compreender que desígnio leva a que o Ofício proporcione a alguns alimento espiritual abundante enquanto outros permanecem na aridez, Gertrudes recebeu de Deus a seguinte luz:

«O coração foi criado por Deus para reter a alegria espiritual como um copo retém água. Porém, se esse copo tem orifícios impercetíveis que deixam escapar a água, poderá acabar por ficar completamente a secas.

O mesmo acontece com a alegria espiritual encerrada no coração humano: quando se escapa pelos sentidos corpóreos, a vista, o ouvido e os outros sentidos, que têm liberdade para funcionar a seu bel-prazer, acaba por se perder, e o coração fica vazio da alegria de Deus.

Todos podemos fazer esta experiência.

Quando temos o desejo de olhar e de proferir palavras inúteis ou pouco proveitosas, e cedemos a esse desejo, a alegria espiritual, assim desprezada, escorre como a água.

Pelo contrário, quando nos esforçamos por nos conter por amor a Deus, essa alegria aumenta no nosso coração a ponto de este ter dificuldade em a conter.

De facto, quando o homem aprende a dominar-se nessas ocasiões, a alegria divina torna-se-lhe familiar; e, quanto maior tiver sido o esforço que fez para se disciplinar, mais saborosas serão as delícias que descobre em Deus.”

Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301), monja beneditina | O Arauto, Livro III, SC 143

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“Que eu Te siga com amor e sabedoria”

“Recebe-me, Pai santo, na tua clementíssima paternidade, a fim de que, no estádio deste santo propósito no qual, por teu amor, comecei a correr, eu Te receba como recompensa e herança eterna (cf 1Cor 9,24).

Recebe-me, Jesus amantíssimo, na tua doce fraternidade: carrega comigo o peso do dia e do calor (cf Mt 20,12) e sê meu consolo em todo o meu labor, meu companheiro de viagem, meu guia e meu associado.

Recebe-me, Espírito Santo, Deus-amor, na tua amantíssima misericórdia e caridade, e sê o mestre e o preceptor de toda a minha vida e o mais terno amigo do meu coração. [...]

Inverte o muro da minha existência passada, esse muro que me isolava de Ti (cf Is 5,5).

Atrai-me a Ti com violência tal que, extasiada com a suavidade da tua ternura inextinguível, eu Te siga com amor e sabedoria.

Ó Jesus misericordioso, querer está ao meu alcance, mas não encontro meio de realizar; puxa-me, pois, da fragilidade da condição humana com a ajuda da tua graça (cf Rom 7,18), e volta a minha alma para Ti pela lei imaculada do teu amor.

Então, correrei sem me cansar pelo caminho dos teus mandamentos (cf Sl 118,32), prender-me-ei a Ti de maneira inseparável, e Tu estarás comigo, meu Senhor, ajudando-me sem cessar e fortalecendo-me na obra que empreendi por amor do teu amor.”

Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301) Exercícios IV, SC 127 |

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«Quando vires isto, ficarás radiante» (Is 60,5)

“Que grande será a minha alegria, meu Deus, que grande será o meu gozo, que grande será o meu júbilo, quando Tu me revelares a beleza da tua divindade e a minha alma Te vir face a face! [...]

Então tu, minha alma, «verás e viverás em abundância, o teu coração maravilhar-se-á e dilatar-se-á, quando receberes uma multitude de riquezas», delícias e a magnificência da glória «deste mar» imenso da Trindade, digno para sempre de adoração; quando «vier a ti o poder das nações» que «o Rei dos reis e o Senhor dos senhores» (Is 60,5; 1Tm 6,15), com a força do seu braço, tomou para Si da mão do inimigo; quando a torrente da misericórdia e da caridade divina te cobrir. [...]

Então, o cálice da visão — o cálice embriagador e sublime da glória da face divina — ser-te-á apresentado e tu embriagar-te-ás (cf Sl 22,5 Vulg).

Beberás do «rio das delícias» (Sl 36,9) de Deus e a própria fonte da luz te preencherá eternamente com a sua plenitude.

Então, verás os Céus repletos da glória de Deus, que neles vive, e o Astro virginal, que, depois de Deus, ilumina todo o Céu com a sua luz puríssima [Maria], e as obras admiráveis dos dedos de Deus [os santos: Gn 2,7], e «essas estrelas da manhã» que estão sempre diante da face de Deus com muita alegria e O servem [os anjos: Jb 38,7; Tb 12,15].

Deus do meu coração e minha herança de eleição (cf Sl 73,26), durante quanto tempo ficará ainda a minha alma frustrada sem a presença da tua dulcíssima face? [...]

Faz-me ir depressa para junto de Ti, Deus, «fonte de vida» (Sl 37,10), a fim de que, em Ti, eu possa receber a vida eterna para sempre.

Bem depressa «faz brilhar sobre mim o teu rosto» (Sl 31,17) para que, na alegria, eu Te veja face a face.

Depressa, oh, depressa, mostra-Te a mim, para que me regozije em Ti na felicidade eterna.”

Santa Gertrudes de Helfta (1256-1301), monja beneditina | Exercícios, n.º 6

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(1) Fonte: Aleteia (texto editado e adaptado) | Imagem

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