Martírio de S. João Batista - 29 de agosto
Martírio de S. João Batista
"A Igreja celebra neste dia o martírio de João Batista, que o rei Herodes Antipas fez prisioneiro na fortaleza de Maqueronte, na atual
Jordânia, e que, na festa do seu aniversário, a pedido da filha de Herodíades [Salomé],
mandou degolar.
Deste modo, o Precursor do Senhor, como luz que arde
e ilumina, deu testemunho da verdade, tanto na vida como na morte." (1)
A festa do martírio
"A festa
do martírio de São João Baptista
remonta ao século V, em França, e ao século VI, em Roma.
Está ligada à
dedicação da igreja construída em Sebaste, na Samaria, no suposto túmulo do Precursor de Jesus.
O próprio Jesus apresenta-nos João Baptista:
«Quando eles
partiram, começou Jesus a falar a respeito de João às multidões: "Que fostes ver no deserto? Um caniço agitado
pelo vento? Mas que fostes ver? Um homem vestido de roupas finas? Mas os que
vestem roupas finas vivem nos palácios dos reis. Então, que fostes ver? Um
profeta? Eu vos afirmo que sim, e mais do que um profeta. É dele que está
escrito: 'eis que envio o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu
caminho diante de ti'. Em verdade vos digo que, entre os nascidos de mulher,
não surgiu nenhum maior do que João, o Baptista, e, no entanto, o menor no
Reino dos céus é maior do que ele ..."» (Mateus 11:2-11).
O martírio de João Baptista liga-se à
denúncia profética das injustiças cometidas pelos poderosos, inclusive o luxo
da corte, cujo desfecho fatal é a morte do inocente e a opressão dos
marginalizados." (2)
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«E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo» (Lc 1,76)
De entre os
títulos de glória do santo e bem-aventurado João Batista, cuja festa hoje celebramos, não sei qual prefiro: se
o seu nascimento milagroso ou a sua morte, ainda mais milagrosa.
O seu
nascimento trouxe uma profecia (Lc 1,67ss), a sua morte a verdade; o seu
nascimento anunciou a chegada do Salvador, a sua morte condenou o incesto de
Herodes.
Este santo
homem [...] mereceu, aos olhos de Deus, não desaparecer da mesma forma que os
outros homens, mas deixou este corpo recebido do Senhor confessando-O.
João cumpriu em
tudo a vontade de Deus, pois tanto a sua vida como a sua morte correspondem aos
desígnios divinos. [...]
Ainda se
encontrava no ventre de sua mãe e já celebrava a chegada do Senhor com os seus
movimentos de alegria, uma vez que não podia fazê-lo com a voz; com efeito, Isabel diz a Santa Maria: «Logo que chegou
aos meus ouvidos a tua saudação, o menino saltou de alegria no meu seio»
(Lc 1,44).
João exulta
antes de nascer, e antes de os seus olhos verem o mundo já o seu espírito
reconhece o seu Senhor; penso que é este o sentido da frase do profeta: «Antes que fosses formado no ventre de tua
mãe, Eu já te conhecia; antes que saísses do seio materno, Eu te consagrei»
(Jer 1,5).
Não é de
surpreender que, encarcerado na prisão para onde Herodes o enviara, tenha
continuado a pregar por intermédio dos seus discípulos (cf Mt 11,2), Ele que,
ainda no ventre de sua mãe, anunciara já com os seus movimentos a vinda do
Senhor.
São Máximo de Turim (?-c. 420) bispo | Sermão
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Precursor de Cristo no nascimento e na morte
"O santo
precursor do nascimento, da pregação e da morte do Senhor, mostrou no momento
da sua luta suprema uma coragem digna de atrair o olhar de Deus.
Como diz a Escritura: Se aos olhos dos homens foi
atormentado, a sua esperança estava cheia de imortalidade.
Com razão
celebramos festivamente o dia do seu novo nascimento, dia que ele tornou
memorável com a sua própria morte e ilustrou com a gloriosa púrpura do seu
sangue.
Merecidamente
veneramos com alegria espiritual a memória daquele que selou com o martírio o
testemunho que dera do Senhor.
São João sofreu
a prisão e as cadeias e deu a sua vida em testemunho do nosso Redentor, a quem
devia preparar os caminhos.
Não lhe foi
pedido pelo perseguidor que negasse a Cristo, mas que calasse a verdade. E no
entanto, ele morreu por Cristo.
Cristo disse: Eu sou a verdade.
Por isso, foi
por Cristo que São João derramou o
seu sangue, porque foi pela verdade que o derramou.
Se com o seu
nascimento, a sua pregação e o seu batismo dera testemunho de Cristo que havia
de nascer, pregar e batizar, também com o seu martírio precursor deu testemunho
da futura paixão do Senhor.
Assim terminou
a sua vida este homem tão insigne e valoroso, derramando o seu sangue depois de
longo e penoso cativeiro.
Ele que
anunciara a liberdade duma paz superior, é lançado pelos ímpios na prisão; é
encerrado na escuridão do cárcere aquele que veio para dar testemunho da luz e
a quem a própria Luz, que é Cristo, denominou como uma lâmpada que arde e
alumia; e foi batizado com o próprio sangue aquele a quem foi concedido batizar
o Redentor do mundo, ouvir a voz do Pai que falava do Filho, ver a graça do Espírito Santo que descia sobre Ele.
Por isso, longe
de lhe parecer penoso, era pelo contrário fácil e desejável para ele suportar
pela verdade os tormentos temporais, que lhe faziam antever a recompensa das
alegrias eternas.
A morte não era
para João Baptista apenas uma realidade
inevitável da natureza ou uma dura necessidade.
Ele desejou a
como o melhor modo de confessar o nome de Cristo e receber assim a palma da
vida eterna.
Bem diz o Apóstolo: A vós foi concedido por
Cristo não só acreditar n’Ele, mas também sofrer por Ele.
E se ele diz
que sofrer por Cristo é um dom concedido aos eleitos, é porque os sofrimentos
do tempo presente não têm comparação com a glória futura que se há-de
manifestar em nós."
Das Homilias de
São Beda Venerável, presbítero (Hom.
23: CCL 122, 354.356-357) (séc. VIII) (1)