Os três pólos do humanismo cristão: Ambrósio, Jerónimo, Agostinho
Ambrósio, Jerónimo, Agostinho - três pólos do humanismo cristão
Quase todos os Padres pertencem à elite da sociedade.
É notável a semelhança de sua formação e de sua trajetória dentro da
Igreja: estudos literários que fazem deles escritores de classe, promissora
carreira profana interrompida pela “conversão", período passado em
fortificadora solidão, intensa atividade pastoral acompanhada de forte
influência doutrinal.
Atanásio de Alexandria, Basílio de Cesareia, Gregório Nazianzeno, João Crisóstomo, Cassiano, Dâmaso de Roma, Hilário de Poitiers - a Igreja jamais contará com tantos doutores, ainda mais que dessa lista fazem parte também as três colunas do humanismo cristão no século IV:
- o milanês Ambrósio,
- Agostinho, o africano,
- e Jerónimo, o mestre de Belém.
Esses homens viram um mundo inteiro desabar, mas sabiam que a frágil cristandade podia contar com suas palavras e seus atos para se manter de pé.
Santo Ambrósio
Governador da Ligúria e da Emília com residência em Milão, Ambrósio foi aclamado bispo com trinta e quatro anos, por um povo milanês conquistado por sua sabedoria.
É como orador, como chefe e como jurista que ele enfrenta o paganismo,
que pretende dissociar do Estado romano.
Mas o bispo de Milão não é um escritor
especulativo; seus escritos, pregados antes de serem publicados, visam a instrução;
mas que paz irradia a sua obra-prima, a De
Officiis Ministrorum imitada de Cícero, onde a moral cristã aparece, três
séculos depois da morte de Jesus, como uma flor perfeita!
São Jerónimo
Já Jerónimo (+ 420), que sobreviveria longo tempo a Ambrósio (+ 397), é bem diferente.
Jerónimo é antes de mais nada um sábio, mas sua ciência volta-se para a ação.
Deixando Roma depois da morte do papa Dâmaso,
seu amigo, Jerónimo viveria trinta e cinco anos perto da gruta da Natividade,
dedicando-se a um gigantesco e original trabalho de exegeta, tradutor (a
Vulgata) e historiador: uma obra imensa e diversa, que ele marca com sua personalidade
vigorosa e por vezes crítica.
É através dele que o latim da Igreja obtém seu título de nobreza.
Ao mesmo tempo, enquanto a velha Roma tomba sob os golpes de
Alarico (410), ele sustenta a coragem dos homens que a noite ameaça envolver
abruptamente.
Santo Agostinho
No outro lado do Mediterrâneo, à entrada da
Africa cristã, em Hipona, onde é bispo desde 396, brilha Agostinho, cujo pensamento e cuja atividade literária pertencem ao
património universal: ao lado do tomismo, o agostinismo é uma das formas
originais da filosofia cristã.
Esse convertido do prazer e do neoplatonismo, durante seus trinta e quatro anos de episcopado, desenvolve uma atividade que ultrapassa em muito os limites de sua pequena diocese.
Suas centenas de sermões tinham por
objetivo instruir o seu povo, mas as suas cartas - foram conservadas 276 - endereçavam-se
a tudo aquilo que o mundo romano tinha em termos de cabeças pensantes.
Os tratados de Agostinho giram em torno daquilo
que ele considerava como os três grandes flagelos da época:
- o maniqueismo, cujo universo espiritual
lhe parecia caótico;
- o donatismo, cisma africano provocado pelo
bispo Donato, que pretendia excluir os pecadores da Igreja;
- o pelagianismo, doutrina de um monge bretão,
Pelágio, que proclamava a força da vontade do homem em detrimento da graça
divina.
Ao mesmo tempo, Agostinho esforçava-se por
mostrar aos pagãos, na Cidade de Deus, que o cristianismo
podia vivificar um mundo novo.
Escritor fino a ponto de atingir a mais
elevada poesia – suas Confissões só encontram comparação
nos Pensamentos
de Pascal - Agostinho ergue-se, numa África invadida pelos vândalos e
num mundo submerso em trevas, como a consciência viva do Ocidente.
Fonte: “História da Igreja”, Pierre Pierrard
(texto editado)