A Paixão segundo São Mateus

Jesus reza no Jardim das Oliveiras, antes de ser preso

“Mateus escreve para cristãos que já tem fé e querem aprofundá-la; tenta revelar o sentido da morte de Cristo.

Escreve para cristãos de origem judaica: mostra como Deus mantém em Jesus a promessa que tinha feito ao Seu povo, como Jesus realiza as Escrituras.

Este povo judeu, pelos seus chefes, não aceitou Jesus, e a promessa passa agora para um novo povo, a Igreja.

Mas esta deve manter-se vigilante, pois também ela pode recusar-se a seguir Jesus!

Com a apresentação dos acontecimentos, Mateus quer, sobretudo, manifestar o poder e a autoridade de Jesus.

Jesus é Filho de Deus, sabe o que Lhe vai acontecer, aceita-o e, assim mesmo, os acontecimentos dão-se porque Ele os prevê.

Jesus é o Senhor do mundo inteiro.

O Pai entregou-Lhe o Seu poder e Ele poderia ter-se servido dele para evitar a morte. Mas esta marca o fim dos tempos e inaugura a chegada do mundo novo, do Reino de Deus onde agora temos de viver.

O relato da conspiração (26,1-5) quer responder a um duplo escândalo possível. Como é que o Filho de Deus pode ser condenado à morte?

Pondo o relato nos lábios de Jesus, Mateus mostra que é Ele quem conduz os acontecimentos, os chefes executam (então, v. 3).

Como é que os chefes religiosos, que deviam conhecer o Messias, puderam condená-Lo?

Porque eles são os maus que, segundo o Salmo 2, conspiram contra o Messias.

Sabemos, portanto, a partir de agora, que este Messias vai ser entronizado como Senhor do mundo inteiro.

E Jesus vive a unção em casa de Simão (26,6-13) como a celebração da Sua sepultura.

O relato da Ceia de despedida de Jesus (26,26-69) está enquadrado pelo anúncio da traição de Judas e da negação de Pedro: Jesus sabe, por conseguinte, em que mãos entrega o Seu corpo e sangue. Mas, assim, Ele realiza as Escrituras (v. 31).

Até então, Jesus celebrou a Sua Paixão com a majestade do celebrante do altar.

O relato da agonia (26,36-46) apresenta-O plenamente homem; por três vezes seguidas, Mateus acrescenta a expressão com eles, comigo (v. 36.38.40).

Como todo o homem que sofre, Jesus sente a necessidade da presença dos Seus amigos. Mas até isto Lhe é recusado: estão a dormir...

Mas recita o Pai Nosso para aceitar a vontade do Pai e recuperar toda a Sua força; quando O aprisionam (26,47-56), continua a ensinar e recusa-Se a utilizar o poder que o Pai Lhe
deu.

Perante o tribunal judaico (26,57-68), Jesus proclama que doravante, a partir de agora (v. 64), vai ser investido pelo Pai do poder do Filho do homem exaltado, de Messias entronizado.

Os relatos da negação de Pedro (26,69-75) e da morte de Judas (27,3-10) lembram-nos, tragicamente, que podemos recusar reconhecer este Senhor humilhado.

Sobretudo, Mateus mostra que assim se realiza o oráculo de Zacarias: o povo, então, rejeitava Deus e para o escarnecer pagava-Lhe o irrisório salário do escravo. Em Jesus é, portanto. vendido o próprio Deus!

Na cena do processo romano (21,11-26), Mateus acrescenta a intervenção da mulher de Pilatos: até os Romanos reconhecem que Jesus é justo. Pilatos lava as mãos no caso e o povo assume a responsabilidade desta morte: Que o Seu sangue caia sobre nós...

Doravante, cada homem, tanto judeu como pagão, para ser salvo, deverá entrar na aliança selada pelo Sangue de Jesus.

A morte de Jesus (27,32-54) marca, para Mateus, o fim do velho mundo e a inauguração do mundo novo. Ela realiza assim as Escrituras que Mateus abundantemente cita.

Jesus morre aparentemente abandonado de todos, até de Deus.

Mas a Sua morte é ressurreição: o terramoto é uma imagem do fim dos tempos; a partir deste momento, os santos ressuscitam e entram na Jerusalém celeste e os pagãos reconhecem que Jesus é Filho de Deus.

Os príncipes dos sacerdotes selam o túmulo e postam a guarda (27,55-61): o poder do Ressuscitado sairá dai mais resplendente! Eles próprios recordam o anúncio da ressurreição

Tudo está, aparentemente, acabado. Mateus adverte-nos que tudo começa agora e que, na noite do túmulo, desabrocha a alvorada da ressurreição.”

In “Para ler o Novo Testamento”, Etienne Charpentier, Editorial Perpétuo Socorro / Difusora Bíblica - 2ª edição (texto editado e adaptado) | Imagem