Nascimento de São João Baptista - 24 de junho
A Igreja
celebra a solenidade do Nascimento de são João Batista, o Precursor do Senhor,
que já no seio materno, por virtude do Espírito Santo, exultou de alegria com a
vinda da salvação humana, profetizando, com o próprio nascimento, o Senhor
Jesus Cristo.
De tal modo se
manifestou nele a graça divina, que o próprio Senhor disse a seu respeito: «Entre os filhos de mulher, não apareceu
ninguém maior do que João Batista».
É o único
santo, além da Mãe do Senhor, do qual se celebra não só o nascimento para o céu, mas também o nascimento segundo a carne. (1)
São João
Batista era filho de Zacarias e de Santa Isabel.
É conhecido
como "Batista" pelo facto
de pregar um batismo de penitência (cf. Lucas 3,3).
João, cujo nome
significa "Deus é propício",
veio à luz em idade avançada de seus pais (cf. Lucas 1,36). Parente de Jesus
(sua mãe – Isabel – era prima de Maria, Mãe de Jesus) , foi o precursor do
Messias.
É João Batista
que aponta Jesus, dizendo: "Eis o
Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Dele é que eu disse: Depois de
mim, vem um homem que passou adiante de mim, porque existia antes de mim"
(João 1,29ss.).
De si mesmo deu
este testemunho: "Eu sou a voz do
que clama no deserto: Endireitai os caminhos do Senhor..." (João
1,22ss.).
São Lucas, no primeiro capítulo de seu
Evangelho, narra a conceção, o nascimento e a pregação de João Batista,
marcando assim o advento do Reino de Deus no meio dos homens.
A Igreja
celebra-o desde os primeiros séculos do cristianismo. (…).
O seu
nascimento é celebrado pelo povo com grande júbilo: arraiais, fogueiras,
cantos, danças folclóricas e fogo-de-artifício fazem da sua festa uma das mais populares e queridas da nossa gente. (2)
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Voz que clama no deserto
A Igreja celebra
o nascimento de João como acontecimento sagrado: não há nenhum, entre os nossos
antepassados, cujo nascimento seja celebrado solenemente.
Celebramos o de
João, celebramos também o de Cristo: isto tem sem dúvida uma explicação. E se
não a damos tão perfeita como exige a importância desta solenidade, meditemos
ao menos nela, mais frutuosa e profundamente.
João nasce de
uma anciã estéril; Cristo nasce de uma jovem virgem.
O futuro pai de
João não acredita que este possa nascer e é castigado com a mudez; Maria
acredita, e Cristo é concebido pela fé.
Eis o assunto,
que quisemos investigar e prometemos tratar. E se não formos capazes de
perscrutar toda a profundeza de tão grande mistério, por falta de capacidade ou
de tempo, melhor vo-lo ensinará Aquele que fala dentro de vós, mesmo estando
nós ausentes, Aquele em quem pensais com amor filial, que recebestes no vosso
coração e de quem vos tornastes templos.
João apareceu
como o ponto de encontro entre os dois testamentos, o Antigo e o Novo.
O próprio
Senhor o testemunha quando diz: A Lei e os Profetas até João Baptista.
João representa
o Antigo e anuncia o Novo. Porque representa o Antigo, nasce de pais velhos;
porque anuncia o Novo, é declarado profeta quando está ainda nas entranhas de
sua mãe.
Na verdade,
ainda antes de nascer, exultou de alegria no ventre materno, à chegada de Santa
Maria.
Já então ficava
assinalada a sua missão, ainda antes de nascer; revelava-se de quem era o
precursor, ainda antes de O ver. São realidades divinas que excedem a limitação
humana.
Por fim, nasce;
é-lhe dado o nome e solta-se a língua do pai. Reparemos no simbolismo que estes
factos representam.
Zacarias
cala-se e perde a fala até ao nascimento de João, o precursor do Senhor; e
então recupera a fala.
Que significa o
silêncio de Zacarias senão que antes da pregação de Cristo o sentido das
profecias estava, em certo modo, latente, oculto e fechado?
Mas tudo se
abre e faz claro com a vinda d’Aquele a quem elas se referiam.
O facto de
Zacarias recuperar a fala ao nascer João tem o mesmo significado que o
rasgar-se do véu no templo, ao morrer Cristo na cruz.
Se João se
anunciasse a si mesmo, Zacarias não abriria a boca. Solta-se a língua porque
nasce aquele que é a voz.
Com efeito,
quando João já anunciava o Senhor, perguntaram-lhe: Quem és tu? E ele
respondeu: Eu sou a voz de quem clama no deserto. João é a voz; mas o Senhor,
no princípio era a Palavra. João é a voz passageira; Cristo é, no princípio, a
Palavra eterna.
Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo (Sermão
293, 1-3: PL 38, 1327-1328) (séc. V) (1)