Comemoração de Todos os Fiéis Defuntos
Comemoração de
Todos os Fiéis Defuntos, na qual a Igreja, Mãe piedosa, depois da sua
solicitude em celebrar com os devidos louvores todos os seus filhos que se
alegram no céu, quer interceder diante de Deus pelas almas de todos os que nos
precederam, marcados com o sinal da fé e que agora dormem na esperança da
ressurreição, bem como por todos os defuntos, cuja fé só Deus conhece, a fim de
que, purificados de toda a mancha do pecado, sejam associados aos cidadãos
celestes, para poderem gozar da visão da felicidade eterna. (1)
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Fiéis Defuntos
Para muitas
pessoas o dia de fiéis defuntos é uma data triste que deveria ser excluída do
calendário.
Muitos, nesse
dia, ficam deprimidos ao recordarem os seus entes queridos que partiram desta
vida. Alguns isolam-se, outros viajam para esconder as suas mágoas...
Porém, poucos
conseguem ver que o dia de fiéis defuntos deve ser um momento de reflexão
acerca de como anda a nossa conversão.
Deve ser um dia
de "fecho para balanço", daqueles em que se pára tudo, totalizam-se
os lucros e os prejuízos e promete-se e permite-se vida nova.
Não podemos
esquecer-nos de que um dia partiremos nós desta vida.
Não podemos
ignorar isso pois, como um ladrão na noite, como diz o Evangelho, esse dia
chegará. ~
Felizes aqueles
que foram "apanhados" em oração, com os Sacramentos em dia.
Muitas pessoas
lamentam a "perda" de um pai ou uma mãe, esquecendo-se de que eles
fizeram apenas uma grande viagem e que nos esperam.
Partiram quando
o Pai, transbordando de saudades, gritou: - Filho(a), há quanto tempo estás aí!
Volta para casa! - e assim foi feito.
Muitos, porém,
desses que lamentam a perda de um ente querido, ao invés de serem
verdadeiramente santos para um dia voltarem a encontrar-se com os seus parentes
e amigos que partiram desta vida, tomam outro rumo, ora distanciando-se de Deus
e da Sua Igreja ora vivendo uma fé morna, como diz Jesus.
Não percebem
que desse modo desperdiçam a única oportunidade que têm de rever essas pessoas.
É uma pena...
Neste dia 2 de
Novembro, que possamos verdadeiramente rever os nossos sonhos, a nossa vida, a
nossa fé e, pela glória de Deus, mudar de rumo, se necessário for. (2)
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Morramos com Cristo, para vivermos com Ele
“Vemos que
também a morte pode ser lucro e a vida ser castigo. Por isso Paulo afirma: Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro.
Que é Cristo,
senão morte do corpo e espírito de vida?
Morramos pois
com Ele, para vivermos com Ele.
Seja nosso
exercício diário o amor da morte, a fim de que a nossa alma, pelo afastamento
dos desejos corpóreos, aprenda a elevar se para as alturas, onde o prazer
terreno não pode chegar nem atraí la a si, e assim receba a imagem da morte
para não incorrer no castigo da morte.
A lei da carne
contradiz a lei do espírito e quer submete-la à lei do erro. Qual será o
remédio para isto? Quem me libertará do meu corpo mortal? A graça de Deus por
Jesus Cristo Nosso Senhor.
Temos médico,
apliquemos o remédio. O nosso remédio é a graça de Cristo, e o corpo mortal é o
nosso próprio corpo.
Por
conseguinte, afastemo-nos do corpo para não nos afastarmos de Cristo. Embora
vivamos no corpo, não sigamos o que é do corpo nem nos sujeitemos às exigências
da natureza, mas prefiramos os dons da graça.
Que mais ainda?
O mundo foi resgatado pela morte de um só. Cristo podia não ter morrido, se
quisesse; mas julgou que não devia fugir à morte, como se fosse inútil; antes,
considerou a como o melhor meio para nos salvar.
A sua morte
foi, portanto, a vida de todos. Recebemos o sinal sacramental da sua morte,
anunciamos a sua morte na oração, proclamamos a sua morte na Eucaristia; a sua
morte é vitória, é sacramento, é solenidade anual em todo o mundo.
Que diremos
ainda da sua morte, depois de mostrarmos, com o exemplo divino, que só a morte
conseguiu a imortalidade e se redimiu a si própria?
Não devemos
pois chorar a morte que é a causa da salvação universal; não devemos fugir à
morte que o Filho de Deus não desprezou nem evitou.
Sem dúvida, a
morte não fazia parte da natureza, mas tornou se natural; porque Deus não
instituiu a morte ao princípio, mas deu a como remédio.
Condenada pelo
pecado a um trabalho contínuo e a lamentações insuportáveis, a vida dos homens
começou a ser miserável. Deus teve de pôr fim a estes males, para que a morte
restituísse o que a vida tinha perdido. Com efeito, a imortalidade seria mais
penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça.
A nossa alma
aspira a sair do estreito círculo desta vida, a libertar se do peso deste corpo
terreno e a caminhar para aquela assembleia eterna onde só chegam os santos,
para aí cantar o louvor de Deus, como cantam, segundo a leitura profética, os
celestes tocadores da cítara: Grandes e admiráveis são as vossas obras, Senhor
Deus omnipotente; justos e verdadeiros são os vossos caminhos, ó Rei das
nações.
Quem não há-de
temer e glorificar o vosso nome? Porque só Vós sois santo, e todos os povos
virão adorar Vos.
A nossa alma
deseja partir deste mundo para contemplar as vossas núpcias eternas, ó Jesus,
nas quais, por entre o cântico jubiloso de todos os eleitos, a Esposa é
acompanhada da terra ao Céu – a Vós acorrerão todos os homens – já não sujeita
ao mundo, mas unida ao Espírito.
Era isto que o santo David desejava, acima de tudo,
contemplar e admirar, quando dizia: Uma
só coisa peço ao Senhor, por ela anseio: habitar na casa do Senhor todos os
dias da minha vida, para viver na alegria do Senhor.”
Do Livro de
Santo Ambrósio, bispo, sobre a morte de seu irmão Sátiro (Lib. 2,
40.41.46.47-132.133: CSEL 73, 270-274, 323-324) (séc. IV) (1)
(1) Fonte
(2) Evangelho
Quotidiano