São João da Cruz, presbítero, reformador, doutor da Igreja, +1591 - 14 de dezembro

São João da Cruz, presbítero, reformador, doutor da Igreja, +1591 - 14 de dezembro

João de Yepes nasceu em Fontiveros, perto de Ávila, Espanha.

Seu pai, Gonçalo de Yepes, sendo de nobre família, a tudo renunciou para casar com Catarina Álvares, uma pobre órfã. João de Yepes nasceu, num lar pobre, mas de muito amor. A sua pobreza depressa se transformou em miséria com a morte do pai.

Em Medina del Campo, João foi recolhido num orfanato.

Enquanto estudava, trabalhou no hospital de Medina e, durante dez anos, tratou doentes e conheceu as histórias mais inverosímeis do mundo e as dores mais atrozes dos homens.

Aos 21 anos de idade, sem dizer nada a ninguém, João dirigiu-se ao Convento dos Carmelitas onde tomou o hábito e recebeu o nome de Frei João de S. Matias.

Para João, a escolha da Ordem do Carmo era plenamente justificada: sendo o Carmo a Ordem de Maria e tendo João de Yepes tanto amor à Virgem Nossa Senhora e tendo-o ela livrado de alguns perigos na sua meninice, escolheu servi-la e assim agradecer-lhe.

Estudou em Salamanca e cantou Missa em Medina del Campo. Foi aqui, que no ano de 1567, conheceu a Madre Teresa de Jesus, que o convidou para primeiro Carmelita Descalço e fundador de entre os frades do novo estilo de vida que ela mesma havia iniciado entre as freiras.

No Verão de 1568, vestindo já o primeiro hábito de Carmelita Descalço, feito precisamente pela Madre Teresa de Jesus, dirigiu-se a Duruelo onde, durante todo o Verão, foi preparando e transformando uma velha e pobre casa no primeiro convento da nova família do Carmo.

No dia 28 de novembro desse ano, primeiro Domingo do Advento, chegaram Frei António de Jesus e Frei José de Cristo que deram oficialmente início à nova Ordem. A partir deste dia, Frei João de S. Matias passou a chamar-se Frei João da Cruz.

Quando Santa Teresa de Jesus foi nomeada prioresa do convento da Encarnação, em Ávila, pediu a S. João da Cruz que se dirigisse para esta cidade como confessor das freiras deste convento. Aqui permaneceu durante cinco anos.

Frei João da Cruz realizou em Ávila, verdadeiros prodígios, o que levou os abulenses a terem por ele verdadeira admiração e profundo respeito.

Mas os Carmelitas Calçados de Ávila não estavam contentes com a fama e o apreço que o povo tinha por Frei João da Cruz e pelos frades dos Carmelitas Descalços e prenderam Frei João.

Tudo fizeram (torturas físicas e psicológicas, belas ofertas, de poder e de riqueza) para que Frei João abandonasse a obra começada. Ao que Frei João respondeu: «Quem procura seguir a Cristo pobre, não precisa de joias nem de ouro».

De dezembro a agosto, Frei João permaneceu no cárcere, sendo martirizado com duras disciplinas. Depois de ter sido impedido de celebrar missa Frei João de S. Maria, decidiu fugir.

Antes de o fazer ofereceu ao seu carcereiro uma cruz de madeira feita por si, pedindo-lhe perdão de todos os trabalhos que lhe tinha causado.

Numa noite de agosto, correndo os maiores perigos, desconhecendo em absoluto a cidade de Toledo e sem a ajuda de ninguém, muito debilitado fisicamente, no limite das suas forças, conseguiu fugir da prisão! Acolheu-se no convento das Carmelitas Descalças e tudo foi feito durante dois meses para que se restabelecesse.

Desde que deixou toledo Frei João passou por inúmeras tormentas dentro da própria ordem.

Depois do Capítulo de Madrid partiu para o convento de La Peñuela onde pretendia terminar os seus escritos: Subida do Monte Carmelo, a Noite Escura, a Chama de Amor viva e o Cântico Espiritual enquanto aguardava a ida para o México como missionário o que não chegou a acontecer uma vez que adoeceu.

Acabou por ser levado para Úbeda onde foi recebido com muito carinho.

A doença agravou-se e os últimos dias de Frei João foram cheios de dores atrozes.

Morreu a 14 de dezembro de 1591 – dia de Nossa Senhora – aos 49 anos, em Ubeda.

Foi beatificado por Clemente X, em 1675 e declarado santo por Bento XIII, em 1726.

É doutor da Igreja, padroeiro dos místicos e poetas. (1)

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Conhecimento do mistério escondido em Cristo Jesus

Por mais mistérios e maravilhas que tenham descoberto os santos Doutores e entendido as almas santas neste estado de vida, o melhor fica-lhes por dizer e até por entender.

Efetivamente, há muito que aprofundar em Cristo, porque Ele é como uma mina abundante com muitas cavidades cheias de tesouros, que por mais que afundem nunca lhes encontram fim nem termo, antes em cada cavidade vão encontrando novas veias de novas riquezas.

Por isso disse São Paulo, falando de Cristo: N’Ele estão todos os tesouros da sabedoria e da ciência, nos quais a alma não pode entrar nem a eles pode chegar, se, como dissemos, não passar primeiro pela estreiteza do padecer interior e exterior. Porque mesmo ao que nesta vida se pode alcançar desses mistérios de Cristo não se pode chegar sem ter padecido muito e recebido muitas mercês intelectuais e sensitivas de Deus, e sem ter precedido muito exercício espiritual, porque todas estas mercês são mais baixas que a sabedoria dos mistérios de Cristo, pois todas elas são como disposições para chegar a esta sabedoria.

Oh se se acabasse já de entender que não se pode chegar à espessura e sabedoria das riquezas de Deus, que são de muitas maneiras, senão entrando na espessura do padecer de muitas maneiras, pondo nisso a alma a sua consolação e desejo! E como a alma, que deveras deseja a sabedoria divina, deseja primeiro padecer, para entrar nela, pela espessura da cruz!

Por isso admoestava São Paulo aos Efésios, que não desfalecessem nas tribulações, que fossem bem fortes e arraigados na caridade, para que pudessem compreender com todos os santos, qual seja a largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer também aquele amor de Cristo, que excede toda a ciência, para serem cheios de toda a plenitude de Deus. Porque para entrar nas riquezas desta sabedoria, a porta é a cruz, que é uma porta estreita, e desejar entrar por ela é de poucos; mas desejar os deleites a que se chega por ela, é de muitos. (2)

Do Cântico Espiritual de São João da Cruz, presbítero (Estr. 36-37) (Séc. XVI)

1 Fonte | 2 Fonte

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