Santos Basílio Magno e Gregório Nazianzeno, bispos e doutores da Igreja (séc. IV)
São Basílio Magno
São Basílio
Magno, Bispo de Cesareia (c. 330-379) foi, com seu irmão Gregório,
Bispo de Nisa (335-394?) e o seu amigo Gregório Nazianzeno, Patriarca de
Constantinopla (+389/390) um dos "grandes Capadócios", título
pelo qual ficaram conhecidos estes três Padres da Igreja.
Basílio nasceu
em Cesareia de Capadócia, na atual Turquia, no ano 330, de uma família cristã,
e notabilizou-se, não só pelos seus escritos teológicos, mas também como homem
de governo e organizador do monaquismo oriental.
Começou por
viver vida eremítica, mas, no ano 370, foi eleito bispo da sua cidade natal. Foi
o autor dos primeiros escritos sobre o Espírito Santo.
Foi o criador
de uma imensa obra a serviço dos pobres, fundando hospitais, asilos, casas de
repouso, escolas de artesanato, etc.
Morreu em 379,
no dia 1 de janeiro.
Com Santo
Atanásio, são os Padres dogmáticos mais célebres do Oriente, pertencendo à
escola neo-alexandrina.
Antes de
ocuparem as respetivas cadeiras episcopais, todos eles vivem no deserto e
estudam os escritos dos apologistas, principalmente de Orígenes.
Como dogmáticos
convictos, aumentam o prestígio do credo niceno e lutam contra o arianismo.
Foi, pois, graças
à sua obra que, no plano teológico, foi conseguida a vitória sobre o arianismo,
heresia defendida por Ário.
O arianismo
foi condenado como heresia pelo Concílio de Niceia I, o qual também
decidiu exilar Ário.
Este concílio,
que decorreu de 20.05.325 a 25.07.325, foi convocado pelo Papa São Silvestre, é
o primeiro a reunir a Cristandade. (1)
São Gregório de Nazianzo
Gregório de
Nazianzo foi ao mesmo tempo homem de ação e de contemplação; filósofo e poeta;
incerto entre a vida ativa e a vida ascética, entre a pregação e a meditação.
Desde pequeno, Gregório
consagrou-se à castidade, que lhe aparecera em sonhos como uma menina vestida
de branco. Já maior, estudou nas mais importantes cidades do Oriente: Cesareia,
na Palestina; Alexandria, no Egipto; e Atenas, na Grécia.
Em Atenas,
cimentou a sua amizade com Basílio e voltando os dois à Capadócia, decidiram retirar-se para a solidão e
meditação.
Aliás, foi esta
vocação para a vida solitária que viria a ser a fiel companheira dos altos e
baixos de S. Gregório. Tempos depois, ao regressar a Nazianzo é ordenado
sacerdote.
A sua atividade
mais célebre encontra-se ligada a Constantinopla, onde bastava entrar numa
padaria para ouvir falar do problema da Santíssima Trindade (segundo S.
Gregório), ou seja, tratava-se de um tempo de polémicas religiosas em que
questões de fé era rebaixadas ao nível do sacrilégio e da blasfémia.
Como dizia S.
Gregório, quem trata do dogma, deve estar à altura do dogma. E foi assim,
estando à altura da sua missão de pregação que, além de sábio, convincente, não
o era somente porque conhecia a doutrina cristã, mas também porque a vivia de
forma exemplar.
No entanto, por
uma série de oposições maldosas, Gregório não chegou a ser Bispo de
Constantinopla, como desejava o povo e despedindo-se humildemente, teve que
voltar à sua terra natal: Nazianzo.
Aí, em
silêncio, continuou o seu falar com os homens e com Deus, escrevendo 240
cartas, muito importantes pelo seu conteúdo teológico ou moral e belas pela sua
forma literária. Antes de partir para o Paraíso, em 390, compôs centenas de
poesias em elegantes versos gregos que lhe mereceram um lugar de destaque na história
da poesia, além da gloriosa fama de Santo. (2)
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O Senhor
vivifica o seu corpo no Espírito
Diz-se homem
espiritual aquele que já não vive segundo a carne mas sob a moção do Espírito
de Deus, aquele que se chama filho de Deus e se tornou conforme à imagem do
Filho de Deus. E assim como a capacidade de ver só se exerce em olhos
saudáveis, também a ação do Espírito só se exerce na alma purificada.
Assim como a
palavra, que está no nosso espírito, umas vezes permanece como simples
pensamento do coração e outras vezes é proferida pelos nossos lábios, assim
também o Espírito Santo, que habita em nós, umas vezes dá testemunho ao nosso
espírito e exclama em nossos corações Abba, Pai, e outras vezes fala por meio
de nós, conforme ao que foi dito: Não sois vós que falais, mas o Espírito do
Pai que fala em vós.
Por outro lado,
ao distribuir a todos os seus carismas, o Espírito é o todo que se encontra em
cada uma das partes. Todos somos, com efeito, membros uns dos outros, embora
com dons diferentes, segundo a graça que Deus nos concede.
Por isso, não
podem os olhos dizer à mão: não precisamos de ti, ou a cabeça dizer aos pés:
não preciso de vós. Ao contrário, todos os membros reunidos constituem o Corpo
de Cristo na unidade do Espírito e prestam uns aos outros a necessária
entreajuda, de acordo com os dons recebidos.
Foi Deus quem
dispôs os membros no corpo, cada um deles conforme o seu beneplácito divino.
Por sua vez, os membros são solidários uns para com os outros, em virtude do
amor mútuo, nascido da sua comunhão no mesmo espírito vital. E assim, quando um
membro sofre, todos sofrem com ele; quando um membro é honrado, todos tomam
parte na sua alegria.
E assim como as
partes estão no todo, também cada um de nós está no Espírito, pois todos nós,
que formamos um só corpo, fomos batizados num só Espírito.
E tal como o
Pai se contempla no Filho, também o Filho se contempla no Espírito. Por isso,
«adorar no Espírito» quer dizer que a operação do nosso espírito se realiza na
luz da verdade, como se pode deduzir das palavras dirigidas à Samaritana. Como
ela julgava que se devia adorar a Deus num lugar determinado, segundo o modo
errado de pensar do seu povo, o Senhor instruiu-a, dizendo-lhe que Deus devia
ser adorado em espírito e verdade, chamando Se deste modo a Si mesmo a verdade.
Nós falamos de
uma adoração no Filho, como numa imagem de Deus Pai; também podemos falar de
uma adoração no Espírito, uma vez que exprime em Si mesmo a divindade do
Senhor.
Por
conseguinte, falando com propriedade e congruência, devemos dizer que na
iluminação do Espírito contemplamos o esplendor da glória de Deus. Por meio do
sinal do Espírito somos conduzidos Àquele de quem o Espírito é sinal e selo
autêntico.
Do Livro de
São Basílio Magno, bispo, sobre o Espírito Santo (Cap. 26. n. 61.64:
PG 32, 179-182.186) (séc. IV) (3)
Fontes: (1) "História
Breve do Cristianismo", José Orlandis (editado, adaptado e aumentado) | (2)
Evangelho Quotidiano | (3)