Domingo – Dia do Senhor | O descanso dominical
Jesus disse aos seus discípulos: "Vinde, retiremo-nos a um lugar deserto e repousai um pouco".
O descanso
é absolutamente necessário ao homem. A ação de Deus, no princípio da
criação é norma exemplar para o homem. Deus trabalhou seis dias e descansou no
sétimo dia.
Há
trabalhos que têm de fazer-se ao domingo, como o trabalho dos estabelecimentos
hoteleiros das donas de casa, dos transportes públicos, e de todos os estabelecimentos
necessários à vida do homem. Há ainda situações que exigem o trabalho ao
domingo. Mas também se nota uma corrente tendente a menosprezar o descanso
dominical em favor de certos interesses económicos.
Ora, o dia
do descanso aos domingos é a instituição que mais tem marcado a vida dos povos
cristãos.
O descanso tem o sentido de libertação do homem, e foi com a sua Ressurreição
que Cristo nos libertou: os mistérios da Redenção que abriram ao homem as portas
da sua libertação e transformação tiveram lugar no primeiro dia da semana, a
Ressurreição e a descida do Espírito Santo, e por isso se chama "Domingo"
ou seja, "Dia do Senhor".
Foi no
domingo que Ele apareceu aos apóstolos reunidos no Cenáculo e Ihes comunicou o poder
de libertar o homem das cadeias dos seus pecados.
Desde os
tempos apostólicos, a Igreja celebrou a Eucaristia no domingo, para tornar
constantemente atual a nossa libertação. O homem tem necessidade de
libertar-se de todo o trabalho profissional que condiciona a sua vida temporal.
É certo
que a organização da vida social já prolongou esse descanso com os
fins-de-semana. Mas também é certo que se nota hoje uma fadiga psíquica e
nervosa cada vez maior.
Torna-se
urgente uma mentalização sobre a maneira de utilizar o descanso. O tempo livre
é para o repouso para recuperar as energias físicas e psíquicas, para libertar
o homem da saturação e do tédio que acompanham o trabalho monótono da semana.
O tempo livre
destina-se ao divertimento que deve definir-se: uma atividade voluntária
realizada num certo limite de tempo e de lugar, seguindo uma regra livremente
aceite mas imperiosa.
Esta atividade
tem um fim: a alegria. Quando o divertimento não tem esta finalidade,
tornar-se
liberdade de todos os instintos que levam ao esgotamento físico e moral que se
nota em tantos homens no princípio da semana, muito maior que no fim de semana,
instintos que enlameiam e embrutecem, arrastando para o mundo dos paraísos
artificiais: alcoolismo, prostituição, drogas.
O divertimento
deve libertar de instintos e paixões e não escravizar. Por isso o tempo livre
é também para aperfeiçoar a inteligência, aumentando a própria cultura em
leituras sãs, em visitas a obras de arte; a aperfeiçoar vontade para obter
aquela energia interior e autodomínio de que precisa para uma vida moral
dignificante; para cultivar as relações sociais que tornam a vida mais
humana e nos ajudam a descobrir os outros e a nós próprios; a tentar a
descoberta de Deus uma descoberta vital de fé e comunhão com Ele.
É desolador
verificar como grande parte dos portugueses mata o tempo livre, esquecendo completamente os aspetos mais positivos do descanso.
O homem
devia encontrar-se a si próprio ao ver-se despojado do seu uniforme de
trabalho, libertado de horários e gestos sintonizados com a máquina, mas o
descanso torna-se um estupefaciente que agrava o seu nervosismo.
"Se
todos os prazeres dos fins de semana deixam um rasto de tristeza e frustração é
porque Deus fez o nosso coração suficientemente grande para não haver nada que
o satisfaça senão Deus".
O descanso
dominical devia dar-nos o sentido da vida.
A Páscoa,
mistério de salvação, vivido mais intensamente na Eucaristia do domingo, iria
unificar as nossas vidas libertando-a de tantos desequilíbrios, desacordos,
absurdos.
A missa do
domingo além de dar um sentido ao trabalho da semana colaboração do homem com
Deus no trabalho da criação e perfeição do mundo – o pão e o vinho que nela se
oferece, representam toda a criação e todos os sofrimentos dos homens, redimidos
e oferecidos a Deus.
Cristo é a
nossa paz, diz S. Paulo, porque restabelece a unidade dentro de nós e à nossa
volta. O descanso dos fins de semana devem empregar-se em fortalecer as
relações familiares, favorece a unidade profunda entre o casal, entre este e os
filhos, com os amigos, com os parentes.
A vida
absorvente dos dias de trabalho não deixa tempo ao marido e tantas vezes à
esposa quando também esta trabalha, não deixa o tempo necessário para conversarem
sobre os seus problemas, para abrirem os corações a delicadas manifestações de
ternura e afeição. Quantos problemas conjugais se evitariam se os esposos
tivessem mais tempo para dedicarem um ao outro.
O descanso
é o tempo que os pais têm para dedicar aos seus filhos e em que os filhos podem
descobrir os pais. Muitos filhos conhecem o pai, simplesmente como o homem que
paga as suas despesas na escola e que quase nunca vê ou com quem quase nunca
conversou.
Se os pais
aproveitassem o descanso para conviverem com os filhos, para passearem mais
tempo com os filhos e divertirem-se com eles evitavam-se muitos conflitos que
se denominam conflitos de gerações mas que são acima de tudo conflitos entre
pessoas que se desconhecem.
Outra
forma de empregar o descanso é a visita aos doentes e aos diminuídos físicos e morais. Aos doentes e diminuídos físicos para os convencer de que aquilo
que pode parecer-lhe uma situação de morte é, antes, um impulso de vida quando
olhado à luz do mistério pascal. Aos diminuídos de ordem moral para os libertar
das suas cadeias, das suas paixões, dos seus complexos.
Procuremos
dar ao descanso o lugar que lhe pertence na nossa vida. Que ele seja
o dia do Senhor pela celebração da santa missa; para ela deve convergir toda a
nossa vida profissional, familiar, social, e dela deve irradiar luz e força que
nos eleve e eleve o mundo à nossa volta, de modo a conseguirmos colocar em prática todos estes ensinamentos que foram
lembrados, para no final da nossa vida, merecermos, como prémio, a Pátria do
Céu.
Pe. Mário
Bizarro da Nave (Peso, Covilhã, Diocese da Guarda), retirado
de “Rosário de Maria”, Agosto-Setembro 2024