Santa Catarina de Sena, Doutora da Igreja co-padroeira da Europa
![]() |
Santa Catarina de Sena |
Santa Catarina nasceu em Sena, no dia
25 de Março de 1347.
Na Europa, a
peste negra e as guerras semeavam o pânico e a morte. A Igreja sofria por suas
divisões internas e pela existência de "antipapas" (chegaram a existir
três papas, simultaneamente).
Desejando
seguir o caminho da perfeição, aos 15 anos Catarina ingressou na Ordem Terceira de São Domingos.
Viveu um amor
apaixonado e apaixonante por Deus e pelo próximo. Lutou ardorosamente pela
restauração da paz política e pela harmonia entre os seus concidadãos.
Contribuiu para
a solução da crise religiosa provocada pelos antipapas, fazendo com que Gregório XI voltasse a Roma.
Embora
analfabeta, ditava as suas cartas endereçadas aos papas, aos reis e líderes,
como também ao povo humilde.
Foi, enfim, uma
mulher empenhada social e politicamente e exerceu grande influência religiosa
na Igreja de seu tempo.
As suas
atitudes não deixaram de causar perplexidade nos seus contemporâneos.
Adiantou-se
séculos aos padrões de sua época, quando a participação da mulher na Igreja era
quase nula ou inexistente.
Deixou-nos o
"Diálogo sobre a Divina Providência",
uma exposição clara das suas ideias teológicas e da sua mística, o que coloca Santa Catarina de Sena entre os Doutores da Igreja.
Morreu aos 33
anos de idade, no dia 29 de Abril de 1380.
![]() |
"Casamento místico de Santa Catarina de Sena" Clemente de Torres (Espanha) - Óleo sobre tela |
Saboreei e vi
“Ó Divindade
eterna, ó eterna Trindade, que, pela
união com a natureza divina, tanto fizestes valer o Sangue de vosso Filho
Unigénito! Vós, Trindade eterna, sois como um mar profundo, no qual quanto mais
procuro mais encontro, e quanto mais encontro, mais cresce a sede de Vos
procurar. Saciais a alma, mas dum modo insaciável, porque, saciando-se no vosso
abismo, a alma permanece sempre faminta e sedenta de Vós, ó Trindade eterna,
desejando ver-Vos com a luz da vossa luz.
Saboreei e vi
com a luz da inteligência, ilustrada na vossa luz, o vosso abismo insondável, ó
Trindade eterna, e a beleza da vossa criatura. Por isso, vendo-me em Vós, vi
que sou imagem vossa por aquela inteligência que me é dada como participação do
vosso poder, ó Pai eterno, e também da vossa sabedoria, que é apropriada ao
vosso Filho Unigénito. E o Espírito Santo, que procede de Vós e do vosso Filho, me deu a vontade com que posso
amar-Vos.
Porque Vós,
Trindade eterna, sois criador e eu criatura; e conheci – porque Vós mo fizestes
compreender quando me criastes de novo no Sangue do vosso Filho – conheci que
estais enamorado da beleza da vossa criatura.
Oh abismo, oh
Trindade eterna, oh Divindade, oh mar profundo! Que mais me podíeis dar do que
dar-Vos a Vós mesmo? Sois um fogo que arde sempre e não se consome. Sois Vós
que consumis com o vosso calor todo o amor profundo da alma. Sois um fogo que
dissipa toda a frialdade e iluminais as mentes com a vossa luz, aquela luz com
que me fizestes conhecer a vossa verdade.
Espelhando-me
nesta luz, conheço-Vos como sumo bem, o bem que está acima de todo o bem, o bem
feliz, o bem incompreensível, o bem inestimável, a beleza sobre toda a beleza,
a sabedoria sobre toda a sabedoria: porque Vós sois a própria sabedoria, o
alimento dos Anjos, que com o fogo da caridade Vos destes aos homens.
Sois a veste
que cobre toda a minha nudez; e alimentais a nossa fome com a vossa doçura,
porque sois doce sem qualquer amargor. Oh Trindade eterna!”
Do «Diálogo
da Divina Providência», de Santa
Catarina de Sena, virgem (Cap. 167: ed. lat. Ingolstadii 1583, ff.
290v-291) (Sec. XIV)
*****
Para ler: Diversas formas de oração
A santidade de rosto feminino
“Na iminência
do Grande Jubileu do ano 2000,
pareceu-me que os cristãos europeus, que estão a assistir, juntamente com os
seus concidadãos, a uma histórica passagem rica de esperança e, ao mesmo tempo,
cheia de preocupações, podem retirar especial proveito da contemplação e da
invocação de alguns santos que são, de certo modo, particularmente
representativos da sua história. [...]
Considero
particularmente significativa a opção por esta santidade de rosto feminino, no
quadro da providencial tendência que, na Igreja e na sociedade do nosso tempo,
se veio afirmando com um reconhecimento sempre mais evidente da dignidade e dos
dons próprios da mulher.
Na verdade,
desde o início da sua história, a Igreja não deixou de reconhecer o papel e a
missão da mulher, apesar de às vezes se ter deixado condicionar por uma cultura
que nem sempre lhe prestava a devida atenção.
Mas também sob
este aspeto a comunidade cristã foi progressivamente evoluindo, sendo decisivo
para este fim o papel desempenhado pela santidade.
A isso deu
estímulo constante Maria, a «mulher
ideal», Mãe de Cristo e da Igreja;
mas também a coragem das mártires, que enfrentaram com surpreendente força de
espírito os tormentos mais cruéis, o testemunho das mulheres empenhadas com
radical exemplaridade na vida ascética, a dedicação quotidiana de tantas
esposas e mães na «Igreja doméstica» que é a família, os carismas de tantas
místicas que contribuíram para o próprio aprofundamento teológico – tudo isso
deu à Igreja indicações preciosas para acolher plenamente o desígnio de Deus
sobre a mulher.
De resto, esse
desígnio já tem expressão inequívoca em algumas páginas da Sagrada Escritura, de modo particular na atitude de Cristo
testemunhada no Evangelho.
É neste
contexto que aparece a opção de declarar Santa
Brígida da Suécia, Santa Catarina de
Sena e Santa Teresa Benedita da Cruz
copadroeiras da Europa.”
São João Paulo II (1920-2005), papa, Motu proprio «Spes ædificandi», §§ 2-3