Da Ceia do Senhor à Eucaristia da Igreja
Última Ceia |
A Eucaristia da Igreja
mergulha as suas raízes na Ceia de Jesus.
Ao reunirem-se para celebrar a Refeição do Senhor, os cristãos comem do pão partido e bebem do cálice de vinho, depois de o sacerdote ter pronunciado, na oração de bênção, as palavras
de Jesus: Tomai e comei, isto é o meu corpo. Bebei todos deste
cálice: este é o meu sangue (Mt 26,
27). Fazei isto em memória de mim (Lc 22, 19).
Memorial da última
Ceia, a Eucaristia deveria ser marcada pela tristeza das despedidas do Mestre e do anúncio da sua
morte próxima, morte que ela antecipava em
mistério: o pão e o vinho
tornam-se, de facto, o corpo entregue e o sangue derramado (Lc 22, 19-20).
E, no entanto, a celebração desenrola-se
em clima de alegria, é "eucaristia",
o que quer dizer, simultaneamente, bênção,
louvor, ação de graças.
É a repetição da refeição tomada por Jesus com os seus apóstolos, ao começar a sua
paixão, e realiza-se à luz da Páscoa.
A paixão dolorosa
tornou-se aí "bem-aventurada paixão" (OE I), paixão triunfal.
Sugestões:
Na véspera da sua morte, Jesus falara aos
seus do vinho novo que beberia com eles no reino
de seu Pai (Mt 26, 29).
E eis que, na tarde da ressurreição, Ele parte o
pão aos dois discípulos, com quem se juntara na
estrada de Emaús (Lc 24, 30), e a
seguir partilha, com os dez apóstolos reunidos na cidade, o que sobrara da refeição deles (Lc 24,
41).
Algum tempo depois, dir-lhes-á, junto à margem do lago da Galileia: Vinde almoçar (Jo 21, 12). Por fim, depois de se ter sentado com eles à mesma mesa, deixou-os para voltar para seu Pai (Act 1, 4).
A partir desse momento, a lembrança da refeição que antecipou
o sacrifício da cruz ficou unida à das refeições tomadas
com o Ressuscitado.
Mas, como pano de fundo, não deixarão
de se projetar nela todas as outras refeições
que acompanharam o anúncio da Boa Nova:
- refeições messiânicas de Caná
(Jo 2, 1-11) e dos pães multiplicados no deserto
(Mc 6, 30-44; 8, 1-10);
- refeição partilhada com os pecadores (Mc 2, 15-17; L.
15, 2);
- refeição do perdão em casa de Simão (Lc 7, 36-50);
-
refeição de amizade na casa de Pedro em
Cafarnaum (Mc 1, 31), na casa de
Marta e Maria em Betânia (Lc 10, 38-42);
-
refeição tomada à pressa com os discípulos comprimidos pela
multidão (Mc 6, 32);
- refeição anunciadora da vitória pascal
depois da ressurreição de Lázaro (Jo 12, 1-9).
Todas estavam presentes na memória dos apóstolos e no pensamento da comunidade primitiva, cada vez que se reuniam em casa de um dos irmãos, na expectativa do regresso do Senhor, do festim das núpcias do Cordeiro (Ap 19,9).
Sugestões:
Morte e ressurreição, preparadas por uma inserção íntima
de Deus na família humana, tal e o mistério pascal de Cristo, mistério que se
perpetuará ao longo dos séculos na liturgia da Igreja.
As palavras com que se designou a sua celebração, desde
as origens, exprimem bem os seus aspetos
complementares.
São Paulo chama-lhe a Refeição
do Senhor (1 Cor 11, 20), em referência antes de mais à Ceia, que ele fora
o primeiro a descrever, por volta do ano 55.
São Lucas, nos Atos dos
Apóstolos, fala
da Fração do pão (Ac 2, 42), da
qual tinham sido testemunhas emocionadas os discípulos de Emaús na tarde da Páscoa (Lc 24, 35).
Alguns decénios mais tarde, aparece uma palavra
nova, eucaristia, numa carta em que Santo Inácio de Antioquia reivindica o carácter
hierárquico da celebração!
Refeição sacrificial
da Nova Aliança, pão
partilhado com o Senhor da glória,
ação de graças da comunidade dos crentes, reunião jubilosa à volta da mesa, à qual Cristo preside, na
pessoa do seu ministro - assim se
apresentava a Missa para as gerações
mais próximas do acontecimento inicial.
Ela é a mesma ainda hoje.
Fonte: "A Missa ontem e hoje", Pierre Jounel (texto editado e adaptado) | Imagem